Os últimos acontecimentos
políticos no Brasil têm servido para diversas coisas, mas sobretudo tem servido
para revelar o que se passa no coração de pessoas que se dizem cristãs. Por
isso resolvi escrever abaixo algumas dessas visões políticas sendo contrastadas
com o Evangelho:
Apoiam a pena de morte mesmo
sabendo que Jesus, tendo tido a oportunidade de condenar a mulher adúltera ao
apedrejamento, preferiu agir com misericórdia. Se eles defendessem o direito a
legítima defesa para que as pessoas pudessem defender sua família utilizando
até mesmo armas de fogo, seria razoável. Mas defender a ideia de matar alguém
que já está detido não combina com o ensino do Evangelho.
Apoiam a castração química que, à
semelhança da ideia anterior, é uma decisão que não tem volta. Com esse tipo de
pensamento voltamos à idade média onde os ladrões tinham a mão amputada ao
cometerem delitos. Para mim, qualquer delito, por mais grave que seja, deve ser
combatido com a exclusão da pessoa da sociedade até que essa tenha condições de
retornar ao convívio comum. Para isso é necessário um contínuo acompanhamento
psicológico, além de estímulos educacionais – há prisões onde a pena é
diminuída para cada livro que o detento lê. Vez ou outra vemos casos em que
alguns deles conseguiram concluir o bacharelado e voltaram ao convívio comum. Meu
desejo é que isso deixe de ser exceção e vire regra. Essa tarefa é complicadíssima
para o Estado. Afinal, é mais fácil propor pena de morte, castração química,
tortura, e etc.
Meu pensamento no Evangelho é a
recuperação do indivíduo e não a ideia do olho
por olho e dente por dente. Jesus veio para que todos tenham vida, e a
tenham em abundância. Portanto, não é porque uma vida foi ceifada que devemos
ceifar outra. Isso não é querer “defender bandido”. Se o bandido continuar
bandido e não se recuperar, ele deve ficar isolado da sociedade para sempre na
cadeia.
O Evangelho diz que devemos
acolher o estrangeiro e ajudar o necessitado. Os cristãos são contra o
acolhimento dos siro-libaneses.
Jesus deu liberdade ao jovem rico
para seguir seus mandamentos ou não (cf. Mt 19). No entanto, os cristãos querem
obrigar toda a sociedade a seguir seus princípios através da força do Estado. Homossexuais
devem ser heterossexuais; os que usam drogas não podem usar (leia mais sobre
Descriminalização das Drogas), etc.
Porém, a decisão individual de
cada pessoa deve ser respeitada, desde que isso não afete diretamente o
próximo.
Conforme a lógica de Jesus, o
jovem rico poderia usufruir da sua riqueza caso não quisesse segui-lo, pois o
dinheiro era dele e isso não afetaria ninguém. Da mesma forma, eu penso que o
Estado deve coibir apenas aquilo que faz mal aos outros – quer fumar? Vai para
um fumódromo ou faça isso em casa. Quer ter relações com alguém consciente e do
mesmo sexo? Cada um tem essa liberdade. Decisões puramente individuais que não
afetam terceiros não devem ser interferidas pelo Estado.
A ideia de justiça meritocrática
também é amplamente distorcida. Para alguns, a criança que não tem pai e/ou mãe
e tem que trabalhar o dia todo para sustentar os irmãos tem a mesma chance de
acessar as univerdades e os concursos públicos que crianças que passam o dia
estudando nas melhores escolas da cidade. Ser contra a ideia das cotas é ser
contra a justiça.
Um dos poucos pensamentos
coerentes que se pode aproveitar é o fato de serem contra o aborto. Nesse caso
a decisão individual da mulher afeta terceiros (no caso a criança) e, portanto,
deve ser rigorosamente fiscalizada pelo Estado. Para mim, um aborto deve ser
tratado com tanto rigor quanto um crime de assassinato. Eu sei que existem
estudos que dizem que não há vida no feto nas primeiras três semanas após a
fecundação, pois o cortéx cerebral ainda não começou a se formar, mas essa
ideia ainda é amplamente contestada. A vida humana é coisa séria e para alguém
dizer que não há vida nesse período inicial, este precisa provar
indubitavelmente sua tese.
A ação do Estado para ajudar as mulheres
mais pobres deve ser a implantação de orfanatos e a ampliação de programas
sociais. A saída nunca será legalizar um crime.
Obviamente excetuam-se situações onde a vida da mãe corre riscos ou há má
formação no feto (acefalia e semelhantes).
São muitos temas que poderiam ser
tratados à luz do Evangelho, mas esses ultimamente têm sido tratados com maior
avidez e tenho ficado perplexo com o posicionamento de alguns cristãos. Tem
algum importante que esqueci de comentar? Escreve abaixo nos comentários do
Blog!
Não me rotulo como sendo de
direita ou esquerda. Afinal, pode-se perceber no que escrevi acima que eu
retenho o que é bom dos dois lados. Aliás, o que eu escrevi acima não foi
tirado de nenhum filósofo-político. Tudo isso eu vejo em Jesus. Fiz apenas
aplicações de princípios do Evangelho na vida comum.
Essa é minha oração: que seu
posicionamento político seja ser de Jesus, o resto é ideologia humana.