Para
compreendermos melhor a nossa liberdade em Jesus, precisamos entender uma
doutrina que é muito pouco explorada pela maioria dos pastores. Trata-se da
Doutrina da Concessão. Essa doutrina é
pouco explorada por ser complexa, e para ser discernida de maneira saudável
precisa ser ensinada com bastante cuidado. Ela não é invenção de homens, foi
apresentada pelo próprio Senhor Jesus Cristo e, portanto, faz parte do
Evangelho, devendo ser ensinada tanto quanto qualquer outra doutrina existente.
A Escritura está repleta dos princípios eternos de Deus, os
quais fazem parte da própria essência divina, que também denominamos de
atributos da divindade. Desses princípios, no decorrer da história humana, se
ramificaram os mandamentos que foram aplicados circunstancialmente em cada
ponto da história, conforme o contexto requeria.
Alguns
mandamentos, por terem cumprido a determinação da sua circunstância, caíram em
caducidade, mas os princípios que os geraram mantiveram-se. Outros mandamentos
se mantêm até hoje porque há circunstâncias e contextos que sempre vão existir
em qualquer tempo e em qualquer cultura. Então, estes últimos se mantiveram
atuantes não pela força da Lei de Moisés, que foi aniquilada na cruz, mas pela
força dos atributos eternos do Pai.
Até
aqui, na história da Igreja – ainda que a duras penas –, alguns teólogos têm
aceitado essas relativizações dos mandamentos que tenho explicado em outras postagens desse Blog. Porém, agora teremos que subir um degrau para entendermos a
Doutrina da Concessão. Ela é polêmica justamente porque não só relativiza os
mandamentos, mas também os princípios.
Uma
concessão é uma liberdade dada para se quebrar uma regra em situações
extremamente específicas em que o objetivo ideal não poderá ser alcançado, por
isso busca-se um mal menor. A concessão é um desvio da norma e, portanto, deve
ser tratada como uma exceção e não como regra. Logo, entendido que é uma exceção
ao padrão, deve ser tratado com a mesma peculiaridade que ela traz. Ou seja,
nessas situações de concessão, cada caso é um caso e não há uma receita de bolo
para tratar essas questões. Portanto, devemos entender o conceito desse ensino
para que saibamos aplicar com sabedoria em qualquer contexto que apareça.
1 - A CONCESSÃO QUANDO
A VIDA CORRE RISCO
Jesus
ensina que para salvar a própria vida de um perigo iminente de morte, nos é
dada a concessão de “violar” mandamentos – daqui pra frente quando o violar
estiver entre aspas, significará que embora tenha havido violação, Deus não
considerará como tal.
Em
Mateus 12 é relatado que estando os discípulos com fome, entraram nas searas em
busca de colher espigas para se alimentar. O problema é que eles fizeram isso
em dia de sábado. Como de costume, os fariseus foram acusar os discípulos
diante de Jesus por conta do ocorrido. Jesus, então, dá a seguinte resposta:
“Não
lestes o que fez Davi quando ele e seus companheiros tiveram fome? Como entrou
na Casa de Deus, e comeram os pães da proposição, os quais não lhes era lícito
comer, nem a ele nem aos que com ele estavam, mas exclusivamente aos
sacerdotes? (Mateus 12.3-4).
Jesus
traz a lume a situação de 1 Samuel 21, onde é dito que quando Davi estava
fugindo juntamente com o seu bando da perseguição feroz feita por Saul, precisou parar para pedir comida ao sacerdote Aimeleque. Esse, por não ter pão
comum, deu-lhes pão sagrado, que conforme o mandamento da Lei de Moisés só
poderia ser comido por sacerdotes (cf. Lv 24.9). Usando essa situação como
exemplo, Jesus justifica que caso não
haja outra opção viável, leis podem ser quebradas para que a vida do
indivíduo seja preservada, desde que isso não traga danos a outrem.
Jesus
explicou que isso ocorre porque qualquer lei que exista, existe com o único
objetivo de beneficiar e preservar o homem. Quando o homem precisa morrer para
cumpri-la, a lei se des-significa e perde seu objetivo principal de preservação.
A lei existe por causa do homem, e não o homem por causa da lei (cf. Mc 2.27).
Quem
não discerne esse ensino fica louco sem entender por que Abraão, após ter
mentido sobre sua mulher ser sua irmã, foi abençoado por Deus e as mulheres
daquele reinado que foi vítima da sua mentira ficaram estéreis em Gênesis 20.
Ora, o relato bíblico diz que Abraão estava peregrinando em reinados estranhos
e, em virtude da grande beleza da sua mulher, era certo que ele seria
assassinado para que lhe tomassem Sara. Assim, para proteger a própria vida e a
de todos os que estavam com ele, Abraão decidiu mentir.
Alguns
argumentam que isso aconteceu porque não foi uma mentira completa, afinal Sara
era meia-irmã de Abraão. No entanto, Isaque fez a mesma coisa pelas mesmas
razões em Gênesis 26, mentindo ao dizer que sua esposa era sua irmã. Porém,
nesse caso Rebeca nem era irmã nem meia-irmã de Isaque. E o que enlouquece os
teólogos é que em ambos os casos, logo em seguida a quebra do mandamento, Deus
os abençoa, como que validando a atitude deles. “Semeou Isaque naquela terra e, no mesmo ano, recolheu cento por um,
porque o SENHOR o abençoava.” (cf. Gn 26.12).
Posteriormente
em Êxodo 1, quando o povo de Israel habitava no Egito, Faraó viu que eles
estavam se multiplicando muito rápido, e teve medo que o povo crescesse ao
ponto de fazer uma revolução para se libertarem. Para se prevenir, Faraó deu
ordem às parteiras hebreias que matassem todo menino que nascesse aos hebreus,
deixando viver apenas as meninas. No entanto, o texto bíblico diz que “as parteiras temeram a Deus” (Êx 1.17)
e deixaram viver os meninos. Para justificar a sobrevivência dos meninos as
parteiras mentiram a Faraó, dizendo que isso ocorria pelo fato de as hebreias
darem luz muito rápido, antes mesmo que elas chegassem ao local. A partir daí a
narrativa bíblica poderia mudar, não era necessário o texto continuar falando
das parteiras, afinal, elas não tinham papel principal na história. Mas Deus fez
questão de fazer um pequeno adendo que até hoje confunde os teólogos: “E Deus fez bem às parteiras; e o povo
aumentou e se tornou muito forte. E, porque as parteiras temeram a Deus, ele
lhes constituiu família.” (Êx 1.20-21).
Em
todos esses casos havia perigo de vida. Pelo artifício da mentira, eles puderam
se salvar. Por que Deus não os puniu por isso, ao invés de abençoá-los? Ora,
creio eu que, por não haver outra saída, eles escolheram a opção menos ruim e a
concessão lhes foi dada por Deus.
Se,
por exemplo, um bandido entrasse em minha casa enquanto minha esposa estivesse
no banho e, após ter efetuado o roubo, ao preparar-se para atirar em mim, perguntasse
antes se havia mais alguém dentro da casa, eu prontamente responderia que não,
e salvaria a vida da minha esposa mesmo que através da mentira. Ou ainda, se eu
tivesse a oportunidade de reagir para proteger a minha vida e a de minha
família, eu o faria sem pensar duas vezes, ainda que para isso eu tivesse que
quebrar o “não matarás” ao matar o bandido.
Eu
vivo em uma das cidades mais perigosas do Brasil. Devo ficar parado num sinal
vermelho em um local deserto e perigoso? Se o objetivo do semáforo é proteger
pessoas no trânsito e o local está deserto naquele momento – não havendo
pessoas a serem protegidas – eu não colocaria minha vida em risco ficando a
mercê de bandidos naquele lugar, e passaria pelo sinal vermelho com todo o
cuidado sem medo de estar pecando.
Veja
que todos esses casos são concessões ao padrão. A norma sempre deve ser seguida
em situações normais. Nenhum crente deve sair por aí mentindo, matando, ou
quebrando leis do país. Por outro lado, precisamos entender que em Jesus, pela sua
graça, nos é dada a concessão de quebrar uma norma quando há risco de vida e
quando inocentes não são impactados.
Lembre-se,
de Deus não se zomba. Use esse conhecimento com responsabilidade e consciência.
De Deus não se pode esconder fatos nem as reais intenções do nosso coração.
2 - A CONCESSÃO POR
QUESTÕES CULTURAIS
O
princípio da liberdade sempre existiu e, em Cristo, ele ficou mais claro tanto
no sentido espiritual quanto no sentido físico. No que se refere a cultura da
escravatura existente na época de Paulo, ele recomenda em 1 Coríntios 7: “Por preço fostes comprados; não vos torneis
escravos de homens.” (vs. 23). Mas, no mesmo capítulo ele diz: “Foste chamado, sendo escravo? Não te
preocupes com isso; mas, se ainda podes tornar-te livre, aproveita a
oportunidade.” (vs. 21).
Paulo
entendia que se somos livres em Cristo no aspecto espiritual, deveríamos ser
também no aspecto cultural. Se fomos libertos de poderes e potestades malignas
com poder superior ao poder de um homem, por que deveríamos padecer sendo
escravos de meros humanos?
Sendo
assim, Paulo entendia que a escravatura era pecado, mas vivia numa cultura em
que possuir escravos era algo extremamente comum. Aliás, até dois séculos atrás
a escravatura era aceita largamente em todo o planeta, inclusive no meio
cristão.
Os
crentes da época de Paulo faziam parte dos dois grupos. Uma parte era dos
senhores feudais, os donos da terra, e a outra parte eram os escravos. Se Paulo
ordenasse o fim da escravatura naquela época os senhores iriam perder seu
negócio, pois iriam falir, e os escravos, embora libertos, ficariam à mingua.
Naquele contexto ordenar isso deixaria a vida de alguns, que já era difícil, na
extrema pobreza.
Paulo,
sabendo que o ideal não poderia ser alcançado, decide aconselhar ao menos de
forma a diminuir as consequências desse pecado.
Ele
fala aos senhores cristãos que tratem seus escravos com humanidade e justiça: “vós, senhores, de igual modo procedei para
com eles, deixando as ameaças” (cf. Ef 6.9); e “Senhores, tratai os servos com justiça e com equidade, certos de que
também vós tendes Senhor no céu.” (cf. Cl 4.1).
Aos
escravos, ele recomenda obediência e que realizem um bom trabalho: “Servos, obedecei em tudo ao vosso senhor
segundo a carne, não servindo apenas sob vigilância, visando tão-somente
agradar homens, mas em singeleza de coração, temendo ao Senhor.” (Cl 3.22).
Estou
usando esse exemplo do Novo Testamento para mostrar que existem casos de
extrema força cultural que não podem ser mudados imediatamente sem que hajam sérios danos aos envolvidos. Nesses casos, ensinamos como deve ser o ideal, mas
buscamos naquele momento aplicar o menos ruim para remediar as consequências da
situação.
No
Antigo Testamento existia uma situação extremamente cultural que até hoje
confunde os teólogos. Deus ensinou como princípio padrão no Gênesis que o homem
devia possuir apenas uma mulher durante a sua vida inteira. No entanto, todos
os santos do Antigo Testamento eram polígamos, e Deus nunca se pronunciou ou
agiu contra eles no que se refere a esse assunto.
Naquela
época era inimaginável acabar com a poligamia. Deus, pela sua graça, suportava
aquela situação pelos seguintes motivos: 1) era culturalmente aceitável e não
era visto como algo ruim; 2) as esposas não se sentiam ofendidas com a
situação. Ao contrário, a própria Sara chegou a pedir que seu marido tomasse
outra mulher para si (cf. Gn 16.1-3).
Então
o que se fazia era tentar reduzir as consequências dessas atitudes por meio de
leis circunstanciais, tais como: “Se um
homem tiver duas mulheres, uma a quem ama e outra a quem aborrece, e uma e
outra lhe derem filhos, e o primogênito for da aborrecida, no dia em que fizer
herdar a seus filhos aquilo que possuir, não poderá dar a primogenitura ao
filho da amada, preferindo-o ao filho da aborrecida, que é o primogênito.”
(Dt 21.15-16).
No
entanto, essa concessão dada por Deus não mudava o fato de sempre existirem
consequências a essa quebra de padrão. Por isso nós vemos tantas crises
familiares nos relatos bíblicos, como irmãos de mães diferentes se envolvendo
em problemas uns com os outros, ao ponto de acontecerem até assassinatos e
incestos, como ocorreu na família de Davi.
Nos
nossos dias Deus também age com misericórdia nos dando concessões que nem mesmo
percebemos, visto serem situações extremamente normais em nossa cultura.
Você
não acha que beber Coca-cola é extremamente danoso ao nosso corpo que, por sua
vez, é templo do Espírito Santo e deve ser preservado? Porém, isso é culturalmente
aceitável e não afeta a saúde de outras pessoas, mas apenas ao usuário. Sabendo
disso, meu conselho aos que querem fazer uso é que busquem o menos ruim. Por
isso digo: se querem beber Coca-cola, façam com moderação.
Em
outras culturas, caso você seja missionário na Ásia e um homem casado com cinco
mulheres se converta ao Evangelho, qual conselho você daria? Separaria a
família? O que seria o menos pior nessa situação? – lembre-se que cada caso é
um caso, entenda o conceito da concessão e aja com sabedoria!
3 - A CONCESSÃO QUANDO
O IDEAL TRAZ MAIS DOR
O
divórcio talvez seja um dos exemplos mais claros da concessão dada por Deus.
Jesus disse que ele só é concedido por causa da “dureza do coração humano, pois
não foi assim desde o princípio”.
Em
Gênesis é dado o padrão de que após o homem se unir a sua esposa, os dois se
tornam definitivamente uma só carne. Essa alegoria quer mostrar que os dois
devem permanecer juntos até o dia da morte. A ideia a ser discernida é que da
mesma forma que toda parte do nosso corpo deve nos acompanhar até o túmulo, a
nossa “costela” também deve nos acompanhar até lá.
Paulo
fala isso em Romanos 7: “Ora, a mulher
casada está ligada pela lei ao marido, enquanto ele vive; mas, se o mesmo
morrer, desobrigada ficará da lei conjugal. De sorte que será considerada
adúltera se, vivendo ainda o marido, unir-se com outro homem; porém, se morrer
o marido, estará livre da lei e não será adúltera se contrair novas núpcias.”
(vs. 2-3).
Quando
vamos separar um pedaço de “carne morta” do nosso dedo, conseguimos fazê-lo
facilmente e sem dor, pois a carne está morta. No entanto, quando uma parte
viva do nosso corpo é decepada deliberadamente, traz muita agonia.
Há
algumas raras situações em que decepar uma parte do nosso corpo vai ser a
solução menos ruim do que deixá-la lá. Conheci um homem que machucou a perna em
um acidente de moto, e surgiu no machucado uma bactéria que poderia se alastrar
por todo o corpo. Ele demorou a ir ao médico e, ao chegar ao hospital, para
conter essa situação a perna dele teve que ser decepada. Perder a perna seria
algo ruim, mas pior ainda seria perder a própria vida. Há casos em que tem que
se escolher o mal menor.
O
mesmo se aplica ao divórcio. Nunca existe o divórcio que é bom e aceito por
Deus. O que existe são concessões em casos que ficar casado traria mais dor em
longo prazo do que a separação imediata.
Jesus
tratou desse tema em Mateus 19. Alguns fariseus chegaram e perguntaram se “era
lícito repudiar a mulher por qualquer motivo”. Fazer isso era uma prática comum
naquela época. Haviam homens perversos ao ponto de repudiar a esposa pelo
simples fato de ela não cozinhar conforme ele desejava, dentre outros motivos
banais semelhantes a esse. Jesus, então, cita Gênesis 2.24, mostrando que o
ideal é que a união seja permanente. Os fariseus apelam para a permissão dada por Moisés em
Deuteronômio 24.1-4. No entanto, Jesus diz que essa permissão só foi dada por
conta da dureza do nosso coração. Deus sabia que haveriam casos em que um dos
lados poderia pôr o cônjuge numa situação de opressão, seja ela física ou
emocional, por isso nos deixou essa concessão da separação.
Jesus,
então, faz a aplicação do princípio dado por Moisés ao contexto em que eles
estavam inseridos e disse que essa permissão do divórcio só era válida quando o
homem estava sendo oprimido por uma esposa adúltera.
Naquele
contexto, repudiar uma mulher era semelhante a deixá-la minguar na pobreza e
solidão, pois dificilmente outro homem aceitaria casar com uma mulher que havia
sido repudiada. Pensando nisso, Jesus afirma que a única situação que
justificaria tal abuso seria se a mulher fizesse um abuso maior, adulterando.
Ele nem dá essa liberdade para a mulher caso o adúltero seja o homem, pois não
precisava. Naquela época era inimaginável uma mulher deixar seu marido por
qualquer razão que fosse, pois seria vista como prostituta e sofreria terríveis
preconceitos.
Hoje
em dia a aplicação desse princípio pode ser diferente. As mulheres têm direito
a pensão do governo e têm galgado cada vez mais espaço no mercado de trabalho
para ter seu próprio sustento. O preconceito para com os divorciados inexiste e
ambos podem seguir a vida de forma equilibrada. Portanto, para mim, não é só em
casos de adultério que se justifica o divórcio em nosso contexto. Porém, mesmo
assim, meu conselho vai ser sempre dizer que só se deve haver divórcio em
situações de opressão em que ficar casado traga mais dor do que se houver a
separação. Enquanto houver condições de salvar o casamento, a luta pelo perdão
e reacendimento do amor deve ser contínua, especialmente quando já há terceiros
envolvidos – falo de filhos.
4 - A CONCESSÃO NAQUILO
QUE FOGE AO NOSSO CONTROLE
A
ordem natural dada pelo Senhor era de que o homem deveria deixar pai e mãe e
unir-se a sua mulher, com o fim de tornarem-se os dois uma só carne (cf. Gn
2.24). Porém, Jesus disse que existirão pessoas que não seguirão esse padrão, porque
(a) serão eunucos de nascença, ou (b) foram feitos eunucos pelos homens, ou (c)
se fizeram eunucos (cf. Mt 19.11-12).
A) Eunucos
de nascença
Eunucos
de nascença são os que foram impossibilitados de terem relações sexuais em
virtude de alguma anomalia genética. O natural é que as pessoas venham a nascer
com o órgão sexual normal, apto a ter relações sexuais. Mas, após a queda do
homem, a natureza se corrompeu e passou a criar “cardos e abrolhos” (cf. Gn
3.18). Isso significa que a Criação, em alguns casos, passou a nascer
defeituosa. Alguns homens, por exemplo, passaram a nascer com o órgão sexual
curvado ao ponto de não poder ter relações sexuais, o que os especialistas
chamam de doença de Peyronie; há mulheres que nascem com a vagina fechada ao
ponto de não poderem ter relações sexuais; há pessoas que nascem com os dois
órgãos sexuais – geralmente deformados – o que conhecemos por hermafroditismo.
Enfim, muitas são as anomalias resultantes da queda. Pessoas não nascem com anomalias
por “culpa de Deus”, mas são apenas consequências resultantes da queda do
homem.
B) Foram
feitos eunucos
Os
que foram feitos eunucos pelos homens são aqueles que nasceram normais, mas
sofreram algum tipo de moléstia e tiveram o órgão sexual traumatizado ao ponto
de não conseguirem manter relações com alguém. No caso específico, Jesus se
referia ao costume de um movimento filosófico-religioso da época que
incentivava os homens a mutilarem o próprio órgão sexual para não correrem o
risco de fazerem sexo, que era algo demonizado por eles.
C) Se
fizeram eunucos
E,
finalmente, há os que a si mesmo se fizeram eunucos em função de uma razão
maior que é o reino dos céus. Não que para servir no reino as pessoas precisem
ser castradas, mas que alguns são movidos por um amor tão extraordinário pela
obra de Deus, que não se interessam em nada mais e em ninguém mais, sexualmente
falando.
Nos
nossos dias também existem casos semelhantes aos três casos citados anteriormente, como o já citado caso de
hermafroditismo. Nesse caso a pessoa nasce com uma alteração no corpo, mas sua
alma é bem definida e por dentro ela se identifica como homem ou como mulher.
Em alguns casos a cirurgia pode resolver a situação retirando um dos órgãos
sexuais e mantendo o outro órgão sexual que mais se assemelha ao da sua
identidade sexual interior. Assim, através dessa intervenção cirúrgica, o
indivíduo poderá seguir uma vida normal e cumprir o mandamento de deixar pai e
mãe e se unir ao seu cônjuge.
Essas
situações não são comportamentais e, portanto, não podem ser mudadas pelo
indivíduo, pois foge ao seu controle. Em casos em que a pessoa nada possa fazer
para mudar uma situação, nem mesmo por meio de intervenção cirúrgica, a
concessão lhe será dada.
Muitas
pessoas, por exemplo, são acusadas de praticarem o pecado da gula em função da
sua gordura corporal, mas em alguns casos isso é resultante de problema
genético e não comportamental. Em alguns casos, como geralmente os de obesidade mórbida, a compulsão por comer não é resultante de um comportamento, mas de uma disfunção genética. Assim, sendo algo que foge ao controle deles,
aplica-se a doutrina da concessão.
Atualmente,
não só a igreja, mas toda a sociedade vive um grande dilema no que se refere
aos homossexuais. Eles dizem que nascem com uma identidade sexual interior
diferente da sexualidade manifestada biologicamente no seu corpo. Alguns estudos
têm apontado que isso pode ser decorrente de anomalias cromossômicas[1].
No
entanto, ainda não há consenso no meio científico a esse respeito. Porém, se
algum dia ficar comprovado que a homossexualidade não é somente comportamental, mas que em alguns casos pode se tratar de uma anomalia genética, a igreja terá o dever de aceitá-los, baseando-se na
doutrina da concessão.
[1]
VARELLA, D. Homossexualidade, DNA e
Ignorância. Disponível em: <https://drauziovarella.com.br/sexualidade/homossexualidade-dna-e-a-ignorancia/>.
Último Acesso em 31/10/2016.
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