“O conselho que Aitofel dava, naqueles dias, era como resposta de Deus
a uma consulta; tal era o conselho de Aitofel, tanto para Davi como para
Absalão.” (2 Samuel 16.23)
Esses dias estava lendo a
rebelião de Absalão contra o rei Davi, seu próprio pai, e esse verso me chamou atenção
como nunca havia chamado antes. Fiquei refletindo o quão perigoso é alguém achar
que existem tais pessoas que, qualquer pronunciamento, qualquer opinião,
qualquer interpretação feita é verdade como se fosse palavra de Deus.
Existem pregadores que têm uma
capacidade argumentativa tão grande, uma retórica tão aguçada, um nível
filosófico tão elevado, que por assim serem são tidos por detentores da verdade
divina. E todo o povo passa a os divinizar e a segui-los cegamente.
Muitos desses pregadores são até
bem intencionados e não querem assumir o papel de deuses na vida das pessoas.
Porém, as pessoas os têm como tal.
O texto diz que o conselho de
Aitofel era tido como palavra de Deus por Davi e por Absalão, e não pelo
próprio Aitofel. Assim, existem pregadores que se endeusam, e existem
pregadores que são endeusados pelos outros.
A cegueira das pessoas chega a um
nível tal, que seguem ensinos totalmente contrários ao que Deus diz, sem ao
menos perceberem isso. Nos versículos anteriores Aitofel aconselha Absalão a
cometer adultério com as mulheres do próprio pai para que isso fortalecesse seu
reino. Assim ele fez, e o conselho pareceu dar resultado, mas isso não
significa que foi algo agradável aos olhos de Deus.
Ora, nem eu mesmo quero que alguém
me siga cegamente. Se o que eu falar estiver concorde com a verdade em Jesus, a
palavra deve ser acolhida, mas não por ser propriamente minha, antes por estar
de acordo com o evangelho da verdade.
É por isso que as pessoas
precisam ter um mínimo de conhecimento do evangelho, para terem um parâmetro de
comparação e assim não se deixarem levar por ensinos falsos. O que mais
alimenta a indústria de falsos mestres é a ignorância do povo em relação a
palavra de Deus.
Quando Paulo e Silas chegaram a
Bereia e começaram a anunciar a Palavra nas sinagogas dos Judeus, o texto diz
que estes “receberam a palavra com toda a
avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de
fato, assim.” (Atos 17.11).
Não devemos desprezar quem prega
a Palavra, mas devemos simplesmente ter um mínimo de senso crítico para
verificar se o que está sendo dito está de acordo com o ensino de Cristo ou não.
Não sou do tipo que diz que só se
deve escutar pregadores da religião A, ou doutrinadores da escola B. Ao
contrário, defendo que as pessoas devem ter maturidade para receber de tudo, e
reter o que é bom (cf. 1 Ts 5.21). Eu mesmo desde novo na fé leio material
de todos os tipos de autores, desde católicos como Agostinho de Hipona,
chegando aos reformadores, passando pelos puritanos, até aos teólogos da
atualidade. Nenhum deles são donos da verdade para mim, não os vejo como
Aitoféis. Mas todos têm algo bom para ensinar, e esse “bom” é o que eu busco
reter para mim.
Gostaria também de encorajar os
pregadores de boa fé a pregarem apenas Jesus, conforme Paulo ensinou que se
fizesse: “Eu, irmãos, quando fui ter
convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de
linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus
Cristo e este crucificado.” (1 Co 2.1,2).
Já ouvi pregações onde os pregadores
davam aula de história, política, palestras de autoajuda, adestramento nas
dogmatizações da igreja, enfim, falavam de tudo, menos de Cristo e seu ensino.
Com isso nem me refiro aos malucos que fazem as pessoas pularem, caírem, deitarem
e rolarem por meio de indução psíquica, pois para mim eles nem podem ser
chamados de pregadores. Estou falando de gente boa de Deus, que querem ser
fiéis no ensino, mas acabaram indo por outras veredas. Esses precisam
reencontrar o foco do ensino da Palavra.
Eu, por exemplo, quando prego,
tenho como único objetivo construir a mente de Cristo em meus ouvintes. É
fazê-los entenderem mais acerca da obra de Cristo no que se refere às maiores
subjetividades da salvação, para que possam descansar na graça e no amor de
Deus. E fazê-los entender o evangelho na forma prática, para que saibam
caminhar de forma saudável nessa vida, conforme Jesus caminhou.
Meu ensino é essa simplicidade, e
quem já me ouviu sabe que assim é. Nunca vou ser tido como um grande teólogo, nem vou
escalar o topo dos ministérios eclesiásticos nas maiores igrejas e nos maiores seminários do
Brasil. Isso sinceramente não me atrai. Na grande maioria desses lugares só tem
gente ensinando o que as pessoas nem querem nem precisam ouvir.
Em suma, devemos saber que não
existem pastores ou pregadores perfeitos. Portanto, olhemos para o único Pastor
das nossas almas, aprendamos dele, que é manso e humilde de coração. Aos
demais, os tenhamos com todo respeito, mas não o coloquemos como Aitoféis em
nossas vidas.
“Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele,
pois, a glória eternamente. Amém!” (Romanos 11.36)