Nicodemos foi um homem da seita
farisaica, maioral entre os judeus, e mestre em Israel (cf. João 3). Para mim, a maior marca de Nicodemos era o
receio de ser visto como um seguidor de Jesus em detrimento dos seus cargos na
sinagoga.
Em João 3, em sua primeira
aparição Bíblica, ele vai ter com Jesus escondido, de noite. Após isso, em João
7, quando os fariseus discutiam acerca da possibilidade de prender Jesus,
Nicodemos até tenta defendê-lo: “Acaso, a
nossa lei julga um homem, sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez?” (vs.
51), mas ao ser contraditado pelos demais, silenciou.
Nicodemos conhecia Jesus, e
acreditava que Ele era enviado por Deus (cf. Jo 3.2), mas tinha medo de enfrentar
a sinagoga para defendê-lo. Ele sabia que defender os ensinos de Jesus no meio
da religião constituída sempre resultava em exclusão. A religião institucional geralmente
não suporta Jesus. Nicodemos não estava preparado para abdicar daquilo que a
religião lhe oferecia para segui-lo.
Ele era considerado mestre em
Israel, certamente lia todos os livros dos teólogos mais conhecidos do passado
e de sua época; devia conhecer a história e a tradição do seu povo como ninguém.
Também era considerado maioral dos judeus, sua vida moral certamente era irrepreensível
aos olhos humanos. Tudo isso era incrível para os homens, mas não realizava
nada diante de Deus. Ele servia para ser tudo para os homens, mas não servia
para ser discípulo de Jesus.
O discípulo quando contraditado,
por medo, pode até negar, mas depois chora amargamente arrependido. O discípulo
não se vende, preferindo ser fazedor de tendas a comer o pão da falsa religião.
O discípulo, embora tenha muito conhecimento teórico, prefere reputar tudo como
refugo, caso esses ensinos não estejam ligados a Jesus. O discípulo prefere ser
caluniado, apedrejado e preso pelas verdades do evangelho que se vender à
doutrina dos anciãos.
Se Nicodemos foi salvo? Talvez
tenha sido, caso tenha se arrependido e decidido encarnar a verdade do
evangelho de fato, sem se preocupar com o que os outros pudessem pensar. Mas a
salvação dele não é o que quero discutir aqui. O que quero mostrar é que o
espírito nicodêmico pode atacar qualquer um que começa a conhecer a verdade em
Jesus, especialmente os que passaram vários anos da vida presos à sequidão de
alguma religião vazia.
Podemos ver a diferença clara
entre o discípulo e os que se deixam levar pelo espírito nicodêmico na história
do cego de nascença, em João 9.
Naquela ocasião Jesus curou um
homem cego de nascença, algo inaudito em Israel. Todos deveriam reconhecê-lo
como Senhor e se alegrar pela cura realizada, correto? Porém, Jesus realizou
essa cura supostamente “quebrando” um mandamento. Ele curou a pessoa em dia de
sábado, e isso chegou aos ouvidos dos fariseus.
“Por isso, alguns dos fariseus diziam: Esse homem não é de Deus, porque
não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tamanhos
sinais? E houve dissensão entre eles.” (João 9.16).
Como os fariseus se preocupavam
mais com letras do que com vidas humanas, não aceitavam o fato de que Jesus era
o Messias por ter feito algo que segundo eles não se devia fazer em dia de
sábado. Só acreditariam na cura se o cego e seus familiares testemunhassem.
Quando a pergunta foi feita ao
ex-cego, evidenciou-se que ele se tornara de fato discípulo, pois destemidamente
confessou Jesus: “De novo, perguntaram ao
cego: Que dizes tu a respeito dele, visto que te abriu os olhos? Que é profeta,
respondeu ele.” (vs. 17).
Todavia, os fariseus não
acreditaram no homem, e chamaram seus pais: “Então,
os pais responderam: Sabemos que este é nosso filho e que nasceu cego; mas não
sabemos como vê agora; ou quem lhe abriu os olhos também não sabemos. Perguntai
a ele, idade tem; falará de si mesmo. Isto
disseram seus pais porque estavam com medo dos judeus; pois estes já haviam
assentado que, se alguém confessasse ser Jesus o Cristo, fosse expulso da
sinagoga.” (vs. 20-22).
Os pais, embora tendo visto o
poder de Deus na vida do próprio filho, se deixaram levar pelo espírito
nicodêmico e tiveram medo de perder o espaço que tinham na sinagoga.
Hoje as igrejas em geral também
negam os ensinos do evangelho – embora usem o nome de Jesus; ou são liberais ao
ponto de não seguirem coisas que estão escritas, ou são tradicionais ao ponto
de acrescentarem doutrinas e tradições humanas ao que está escrito. A Palavra,
todavia, diz: “não ultrapasseis o que
está escrito” (1 Co 4.6); “ainda que
nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos
temos pregado, seja anátema.” (Gl 1.8).
A questão é: você que percebe que
sua igreja não está andando conforme Jesus, vai se vender à doutrina humana da
igreja, ou vai lutar pelo evangelho da graça de Deus? Você está acomodado ao
que a sinagoga oferece e não acha que é importante lutar pela real verdade do
Evangelho?
É chegada a hora de você decidir
se você é um Nicodemos ou se é realmente um discípulo de Jesus.
“Eu [Jesus] vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem
vejam, e os que [acham que] veem se tornem cegos.” (João 9.39).