quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Como Jesus tratou os bandidos?

Dificilmente se encontrará um cidadão brasileiro que ainda não tenha sofrido nas mãos de assaltantes. Com 15 anos de idade dois indivíduos completamente drogados colocaram um calibre trinta e oito na minha cabeça e tomaram minha bicicleta; isso ainda se repetiria de forma semelhante outras três vezes em minha vida. Cada pessoa tem uma reação diferente ao sofrer esse tipo de atentado. No entanto, não estou aqui para falar da minha reação, e sim da reação de Jesus ao se deparar com pessoas que se encontravam nessa condição de malfeitores.

A forma de Jesus tratar essas pessoas não seria diferente da forma com que ele trataria os demais. Afinal, ele não faz acepção de pessoas. O agir dele para com todos era sempre movido por amor e misericórdia. No entanto, a grande questão é: essa misericórdia era limitada apenas ao âmbito espiritual, ou Jesus também os livrava das consequências sociais terrenas?

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

O que Deus não pode

“Então, já não pôde Ele reter a sua compaixão” (Juízes 10.16)

O livro de juízes relata uma das piores épocas do povo de Israel no que se refere a infidelidade para com Deus. Por conta disso, Deus levantava nações inimigas que os atacavam, despojavam, e destruíam. O remédio amargo funcionava, pois ao estarem em aperto, lembravam-se de Deus e clamavam a Ele. Então Deus levantava juízes para libertá-los da opressão dessas nações. No entanto, pouco tempo depois, ao se verem em paz, esqueciam-se de Deus e voltavam a adorar outros deuses.

No contexto do versículo que propus, Deus já estava “cansado” dessa atitude do povo. Por isso, Deus respondeu da seguinte forma ao seu clamor: “Ide e clamai aos deuses que escolhestes; eles que vos livrem no tempo do vosso aperto.” (vs. 14).

Por conta dessa resposta, o povo de Israel se viu em grande desespero e vieram a se arrepender verdadeiramente. Assim, o povo sem saber atingiu o “ponto fraco” de Deus: “Temos pecado; faze-nos tudo quanto te parecer bem; porém livra-nos ainda esta vez, te rogamos. E tiraram os deuses alheios do meio de si e serviram ao SENHOR” (vs. 15).

Por Deus ser misericórdia em essência, Ele não consegue ouvir esse tipo de declaração e ficar indiferente. O “ponto fraco” dele é um coração verdadeiramente quebrantado sendo derramado diante dele. Não importa se esse coração é proveniente de alguém podre, tal como era podre a nação de Israel. O que importa é se entregar a Ele em sinceridade. Quando isso acontece, Ele não consegue reter a sua compaixão (vs. 16 – chave).

Na verdade, sabemos que Deus não é vencido, o que acontece é que Deus se deixa vencer. Ele ama se deixar vencer por um coração quebrantado. Ele é o único guerreiro que deseja resolutamente ser atingido no seu próprio ponto fraco. “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus.” (Sl 51.17).

Assim, se Deus não pôde reter a sua compaixão ao povo infiel de Israel, o que ele não fará por ti, homem de pequena fé?

Portanto, derrama teu coração diante dele, e Ele te atenderá. Ele é aquele que sonda as mentes e corações e saberá se seu clamor é verdadeiramente sincero.

Se assim procederes, será dito de ti semelhantemente ao que foi dito a Jacó, ao final de sua luta com Deus no vau de Jaboque: “como príncipe lutaste com Deus e prevaleceste.” (Gn 32.28). Assim, sairás abençoado, e Deus ficará alegremente vencido.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

O Sabichão

“Deus alimentou os fracos e despediu vazios os arrogantes” (Lc 1.53).

Hoje se vive uma época em que as pessoas estão a um clique da informação. Aparentemente isso é algo bom, mas existem pelo menos dois grandes problemas nisso.

O primeiro problema é que algumas pessoas não se aprofundam naquilo que querem conhecer e, portanto, se satisfazem na leitura superficial que alguns veículos de informação oferecem. Isso é danoso porque se enche a sociedade de pseudo-intelectuais que acham que sabem, sem saber.

O segundo problema está em realmente se aprofundar num assunto ao ponto de achar que se tornou o senhor da razão e não ouvir os demais que pensam o contrário. Eu mesmo estudo teologia desde a minha adolescência, mas nunca deixei de ouvir o contraditório. Aliás, sempre que quero estudar um assunto, escuto pessoas com posições antagônicas para verificar qual pensamento faz mais sentido conforme Jesus.

Muitas pessoas perdem uma oportunidade enorme de aprender por conta dessas duas situações: ou porque acham que sabem, sem saber; ou porque sabem tanto de um assunto, que acham ser impossível que alguém tenha algo que possa contradizer aquela ideia.

Como disse Epiteto: "É impossível para um homem aprender aquilo que ele acha que já sabe".

domingo, 7 de maio de 2017

Hermeneutas da Letra Morta

“Louvarei com cânticos o nome de Deus, exaltá-lo-ei com ações de graças. Será isso muito mais agradável ao SENHOR do que um boi ou um novilho com chifres e unhas.” (Salmos 69.30,31)

Fico impressionado ao perceber nesse trecho do Salmo a visão transcendente que Davi tinha de Deus, especialmente pelo fato dele ter vivido na época do A.T, o que poderia limitar sua percepção em vários aspectos. No entanto, mesmo enquanto a história bíblica ainda estava sendo construída, sem ele ter sequer noção que o Antigo Testamento era apenas uma muleta transitória que vigoraria apenas até a vinda do Messias, Davi declara entender que o que Deus espera é uma adoração baseada no coração, e não em ritos exteriores.

O mais assustador disso tudo é que ele fala isso ignorando todas as ordens sobre sacrifícios contidas no Pentateuco. Algum sacerdote, levita, ou teólogo da época poderia questioná-lo por proferir tamanha “heresia”. Para esse tipo de gente, o culto agradável a Deus é único e exclusivamente o definido pelas linhas interpretativas que eles têm acerca do livro sagrado.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

O Mistério da Graça

Não costumo colocar aqui no Blog os e-mails que recebo, mas achei a dúvida abaixo bastante interessante e acho que a resposta que dei pode ajudar outras pessoas.

---------- Mensagem encaminhada ----------
From: xxxxx <xxxxxxxxx@gmail.com>
To: fundamentosdoevangelho@hotmail.com
Cc:
Date: Wed, 1 Feb 2017 02:05:18 -0200
Subject: Thiago, me tira uma dúvida.

Olá, Thiago! A paz!

Estou lendo seu blog e o considero muito lúcido e coerente.

Tenho uma pergunta sobre o texto Doutrina da Concessão.

Vc escreveu:

"Jesus traz a lume a situação de 1 Samuel 21, onde é dito que quando Davi estava fugindo juntamente com o seu bando da perseguição feroz feita por Saul, precisou parar para pedir comida ao sacerdote Aimeleque. Esse, por não ter pão comum, deu-lhes pão sagrado, que conforme o mandamento da Lei de Moisés só poderia ser comido por sacerdotes (cf. Lv 24.9). Usando essa situação como exemplo, Jesus justifica que *caso não haja outra opção viável*, leis podem ser quebradas para que a vida do indivíduo seja preservada, desde que isso não traga danos a outrem.

Jesus explicou que isso ocorre porque qualquer lei que exista, existe com o único objetivo de beneficiar e preservar o homem. Quando o homem precisa morrer para cumpri-la, a lei se des-significa e perde seu objetivo principal de preservação. A lei existe por causa do homem, e não o homem por causa da lei (cf. Mc 2.27)."

Diante desse raciocínio... Por que Uzá morreu ao tocar a Arca? A vida não teria que ser preservada segundo o argumento acima?

Davi foi preservado da morte por erros inclusive intencionais, enquanto Uzá morreu quanto a possível boa intenção em não deixar a Arca cair.

Creio que Deus não faz acepção de pessoas, mas nesse caso ele poderia estar mais preocupado com seu intentos e propósitos do que com a preservação da vida humana?

Acredito que esse tema faria vc escrever mais um texto no seu blog. rs

Um abraço e agradeço sua atenção.

_____________________________________________________


Amado, graça e paz!

Antes de qualquer coisa, para que você entenda melhor sobre as leis do Antigo Testamento, peço que leia dois textos que considero bastante importantes: 1) "Por que a lei foi dada?" e 2) "A Progressão da Revelação em Jesus". Ambos podem ser encontrados em meu Blog.

Agora, vamos ao que você perguntou: por que alguns recebem a sentença contida na Lei e outros não?

Nadabe e Abiú, filhos de Arão, ofereceram fogo estranho e, por conta disso, foram mortos pelo Senhor. Uzá tocou a arca e morreu imediatamente. No entanto, Davi comeu pães da proposição, adulterou, matou o marido, e nada lhe aconteceu. Por que isso? 

Só há uma resposta para a sua pergunta: a graça de Deus! Veja o que Davi escreve: "Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui iniqüidade e em cujo espírito não há dolo." (Salmos 32.2).

Existe um tipo de gente na Terra a quem Deus não atribui iniquidade, por mais que ela venha a acontecer. Davi era um homem segundo o coração de Deus, e Deus sabia as intenções de Davi. O Senhor sabia que ele comia os pães da proposição quando isso era sua única saída para não morrer de fome, mas também sabia quando ele adulterava por pura carnalidade humana. Davi é um retrato meu e seu, um retrado do povo redimido de Deus.

A única explicação que eu posso ter para que essa mesma graça não tenha alcançado os outros é o fato de eles não quererem ser participantes dessa graça. Só posso concluir que a intenção do coração deles nunca foi agradar a Deus, creio que eles nunca tiveram verdadeiramente um relacionamente íntimo com Deus em fé.

Veja, Nadabe e Abiú cometeram uma infração no serviço do sacerdócio por agirem relaxadamente. A questão não era prioritariamente o fogo estranho que eles haviam apresentado, e sim a intenção do coração, que demonstrava uma falta de fé ao que Deus ordenara. Por outro lado, Jesus disse que os sacerdotes violavam o sábado para cumprir seus serviços no templo e ficavam impunes (cf. Mt 12.5). Parecem situações iguais, isto é, duas infrações cometidas no serviço do templo, mas o diferencial só pode estar no coração, aonde não podemos perscrutar. Por vermos apenas pelo lado de fora, as situações parecem iguais e Deus parece estar agindo com dois pesos e duas medidas, mas não está, pois Ele vê aonde não podemos ver.

Existem também situações em que o crente deslisa, e age deliberadamente com intenção ruim no coração. Isso aconteceu com Davi no caso de Bate-Seba. No entanto, Deus conhece os que lhe pertencem e sabia que Davi tinha um coração arrependido e transformado. Por isso perdoou sua iniquidade. No entanto, não o livrou das terríveis consequências terrenas que suas atitudes trouxeram.

Meu irmão, assim somos nós! Nosso coração transformado quer sempre agradar a Deus, mas vez ou outra deslizamos. Deus, todavia, nos fala de forma semelhante ao que o profeta Natã falou a Davi: "teu pecado já foi perdoado antes da fundação do mundo". No entanto, embora perdoados, colheremos as consequências ruins dos nossos erros no decorrer da nossa vida.

Por outro lado, sempre existirão no meio da congregação Nadabes, Abiús e Uzás. A esses, Deus agirá conforme quiser. Alguns morrerão cedo para servir de exemplo, como foi o caso dos três citados, outros viverão muito tempo conforme outros personagens perversamente anônimos da história de Israel.

De fato, meu irmão, você está certo. Deus não faz acepção de pessoas. Sempre estará aberto a todos os que quiserem se chegar a Ele. O problema é que os Nadabes, Abiús e Uzás nunca querem se chegar a Deus sinceramente. À esses Deus atribui iniquidade. Quanto a nós, que somos salvos, ele a joga nos ombros do seu Filho Jesus Cristo.

Atenciosamente,
Equipe Fundamentos do Evangelho


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Predestinação e Liberdade Humana

É extremamente difícil de conciliar a doutrina da predestinação com a da liberdade humana. Afinal, aparentemente uma ideia se contrapõe a outra. Ora, como que pode haver algo predestinado se a liberdade humana pode “bagunçar” o plano que outrora fora traçado?

É por isso que geralmente os teólogos militam nos extremos das duas ideologias; ou se acredita numa predestinação total, em que nós somos meros robôs cumprindo o calendário estabelecido pela divindade; ou se acredita que Deus apenas ativou o universo e saiu de cena, deixando a humanidade entregue às consequências das próprias decisões.

domingo, 22 de janeiro de 2017

O Cristão e as Leis do País

A relação do cristão com as leis do seu país deve ser extremamente sensata. É preciso entender que temos nossa parcela de responsabilidade em segui-la, mas não somos escravos da mesma.

Ora, a lei de Moisés é uma lei superior, sendo Palavra do próprio Deus, mas nós não estamos mais debaixo dela (leia sobre isso aqui), quanto menos seríamos escravos de leis de homens?

Para entendermos melhor nosso papel em face das leis do Estado, devemos ler o texto de Romanos 13:

“1 Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. 2 De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. 3 Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, 4 visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. 5 É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. 6 Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço. 7 Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra.” (Romanos 13.1-7).

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Doutrina da Concessão


Para compreendermos melhor a nossa liberdade em Jesus, precisamos entender uma doutrina que é muito pouco explorada pela maioria dos pastores. Trata-se da Doutrina da Concessão.  Essa doutrina é pouco explorada por ser complexa, e para ser discernida de maneira saudável precisa ser ensinada com bastante cuidado. Ela não é invenção de homens, foi apresentada pelo próprio Senhor Jesus Cristo e, portanto, faz parte do Evangelho, devendo ser ensinada tanto quanto qualquer outra doutrina existente.

A Escritura está repleta dos princípios eternos de Deus, os quais fazem parte da própria essência divina, que também denominamos de atributos da divindade. Desses princípios, no decorrer da história humana, se ramificaram os mandamentos que foram aplicados circunstancialmente em cada ponto da história, conforme o contexto requeria.

Alguns mandamentos, por terem cumprido a determinação da sua circunstância, caíram em caducidade, mas os princípios que os geraram mantiveram-se. Outros mandamentos se mantêm até hoje porque há circunstâncias e contextos que sempre vão existir em qualquer tempo e em qualquer cultura. Então, estes últimos se mantiveram atuantes não pela força da Lei de Moisés, que foi aniquilada na cruz, mas pela força dos atributos eternos do Pai.

Até aqui, na história da Igreja  ainda que a duras penas –, alguns teólogos têm aceitado essas relativizações dos mandamentos que tenho explicado em outras postagens desse Blog. Porém, agora teremos que subir um degrau para entendermos a Doutrina da Concessão. Ela é polêmica justamente porque não só relativiza os mandamentos, mas também os princípios.

Uma concessão é uma liberdade dada para se quebrar uma regra em situações extremamente específicas em que o objetivo ideal não poderá ser alcançado, por isso busca-se um mal menor. A concessão é um desvio da norma e, portanto, deve ser tratada como uma exceção e não como regra. Logo, entendido que é uma exceção ao padrão, deve ser tratado com a mesma peculiaridade que ela traz. Ou seja, nessas situações de concessão, cada caso é um caso e não há uma receita de bolo para tratar essas questões. Portanto, devemos entender o conceito desse ensino para que saibamos aplicar com sabedoria em qualquer contexto que apareça.