sábado, 10 de janeiro de 2015

Tetelestai


     Jesus veio para nos dar liberdade. Essa liberdade não se restringe apenas a libertação do fardo do pecado, mas de tudo aquilo que escraviza a alma no que se refere ao homem tentar agradar a Deus para a salvação.

Não são raros os casos em que uma pessoa recebe de coração aberto a mensagem da salvação através de Jesus, mas continua se perguntando: o que mais tenho que fazer? E acaba por ficar escrava de ritos, dogmas, tradições e tantas outras coisas impostas pela religião.

Uma vez ouvi de um fisioterapeuta que ao receber seus pacientes com alguma dor no corpo, efetuava uma massagem para que o mesmo ficasse livre da agonia, mas ao mesmo tempo usava das suas técnicas para manter a dor infiltrada de forma que viesse a aparecer futuramente em outras regiões do corpo para que os clientes sempre voltassem a sua clínica.

Assim é a religião. Ela passa uma maquiagem no problema do indivíduo, mas ao mesmo tempo prende sua alma em outras áreas para que a pessoa se mantenha cativa ao sistema religioso pelo medo.

Eu acredito que isso ocorre por pelo menos dois motivos: 1) pela falta de entendimento de que o sacrifício de Cristo realmente foi completo e eficaz; 2) por não compreender o que é a “santidade” e as “boas obras” resultantes da conversão.

1 - TETELESTAI

Um dos maiores problemas dos cristãos é não entenderem o significado de tetelestai (“está consumado”, do grego). E quando digo que não entendem, não estou me referindo ao fato de não entenderem o significado etimológico da palavra, porque isso muitos podem até entender. O que a maioria não entende é o significado disso para a vida de todos nós.

A falta desse entendimento implica na ideia de que ainda há algo a mais para consumarmos à nossa salvação. O sacrifício de Jesus foi feito, mas alguns pensam que ainda precisam fazer algo mais.

Esse tipo de pensamento faz com que se ramifique todo tipo de filosofia de “faço-recebo”. Então aparecem doutrinas como a dos Gálatas, que tentam retornar à prisão da circuncisão e da Lei de Moisés; consequentemente nascem doutrinas e tradições humanas que são tidas como ordenanças divinas; e mais, isso pode chegar ao ponto de evoluir para a teologia da prosperidade e tantas outras ideologias de faço-mereço.

No entanto, quando Jesus disse “tetelestai”, ele disse que fez tudo o que Deus requeria que o ser humano fizesse para agradar a Deus. TUDO! E isso não se restringe ao cumprimento da Lei mosaica, mas a qualquer tipo de coisa que o ser humano invente de fazer para se chegar ao Pai. Assim, a única maneira de se chegar a Deus é através da fé naquele que fez tudo em nosso lugar, Jesus Cristo.

Quando não entendemos isso, passamos a querer estabelecer justiça própria, e esquecemo-nos da justiça que vem de Deus. Passamos a achar que merecemos o céu em função da suposta “vida santa” que temos aqui na Terra, e julgamos por condenáveis todos aqueles que não seguem o padrão de vida que nós estabelecemos ser o certo a se seguir. É dessa forma que se iniciam as religiões.

Toda religião (“Religare”, que significa religação do latim) nasce com a ideia de que algo deve ser feito pelo homem para que ele seja aceito por Deus. Todo ser humano tem tendência a pensar que Deus precisa de alguma obra boa para que sejamos aceitos por Ele.

Em Adão já vemos a primeira aparição da religiosidade humana quando ele decide resolver o problema do seu pecado à sua própria maneira, cobrindo a sua nudez com folhas de figueira, obras de suas próprias mãos. No entanto, Deus aparece e sacrifica um cordeiro – que já prefigurava o Cordeiro de Deus, Cristo Jesus – para cobrir a nudez do homem e da mulher, mostrando assim que o sacrifício quem faz é Ele.

Depois dele veio seu filho, Caim, que quis apresentar a Deus uma oferta feita à sua própria maneira, e não uma oferta proveniente da fé conforme fez seu irmão Abel. O resultado foi a aceitabilidade da oferta de Abel, que fez com que seu irmão Caim cometesse o primeiro homicídio da história humana movido por inveja.

Ora, Deus não quer nossas obras como forma de expiação de pecado, elas não são capazes de cobrir a nossa nudez. Ele mesmo é quem sacrifica o cordeiro para nos cobrir. A obra quem faz é Ele.

Logo, a única religião legítima diante de Deus é a que se confia unicamente em Cristo como forma de nos levar ao Pai. Só a fé em Jesus é a nossa verdadeira religação!

Não se confie em nada mais que não seja Ele. Não se confie na sua igreja, não se confie no seu pastor, não se confie nas coisas que você faz na igreja, não se confie nas coisas boas que você faz à humanidade; em nada devemos nos confiar diante de Deus, a não ser em Jesus Cristo. É isso que diz Paulo em Efésios: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” (Ef. 2.8-9).

Conta-se de um soldado japonês, Hiroo Onoda, que se escondeu nas florestas filipinas por 30 anos porque não acreditava que a segunda guerra mundial tinha acabado. Durante anos aviões passavam jogando panfletos informando acerca do fim da guerra, mas ele não acreditava.

Assim acontece com alguns crentes. Jesus venceu na cruz e a guerra acabou, mas eles não acreditam. Por isso, continuam lutando e oferecendo sacrifícios sem entenderem que o único sacrifício aceitável por Deus já foi feito. Está consumado, está feito, está pago através de nosso Senhor Jesus Cristo!

2 - VIDA NOVA COM CRISTO

“Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12.14).

Quando lemos esse versículo somos tentados a pensar que existe uma relação de troca, em que somente teremos acesso à presença de Deus se em troca disso formos santos aqui na Terra. No entanto, esse pensamento é equivocado, não devemos buscar santidade para sermos salvos, mas sim porque fomos salvos. A santidade é uma consequência natural na vida de alguém que teve um real  encontro com Jesus.

      Não existe essa história de que após alguém se entregar a Cristo essa pessoa pode viver uma vida em contínua perversidade e ainda assim se considerar um salvo. Isso seria contraditório. A graça de Deus em nós nos leva a buscarmos nos assemelhar cada dia mais àquele que nos salvou. Sem santificação ninguém verá a Deus, pois é a santificação que mostra que realmente tivemos um encontro com Ele. É impossível ter tido um encontro com o Amor encarnado e continuar sendo a mesma pessoa.

Assim, quando alguém se torna cristão ele deve aos poucos ir amadurecendo sua consciência no Evangelho para que vá se transformando de glória em glória em alguém mais parecido com Cristo. Isso faz dele um ser de consciência livre que segue o Evangelho ensinado por Jesus porque entendeu que isso é o melhor para a própria vida, e não porque o pastor impôs que assim fosse.

O problema é que na caminhada da vida cristã muitas pessoas não compreendem o que é o Evangelho e misturam o ensino de Jesus com mandamentos transitórios do Antigo Testamento e, pior ainda, muitas vezes adicionam doutrinas e tradições meramente humanas.

Então, se alguém não segue essas dogmatizações da igreja, passa a ser visto como um mundano e carnal. O que nem sempre é verdade. Afinal, não está sendo cobrado dessa pessoa o seguir aquilo que Jesus ensinou, mas sim aquilo que os homens adicionaram ao Evangelho.

Não podemos tirar nem adicionar nada ao Evangelho, pois se assim fizermos incorreremos em grave erro. Paulo ensinou: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.” (Gl. 1.8).

O discípulo de Jesus precisa entender que ele caminhará pelo caminho estreito. Nesse caminho estreito não há espaço para nada mais nem nada menos que não seja o Evangelho. É por isso que dificilmente o discípulo consegue se adaptar ao ensino das instituições religiosas. Isso porque geralmente elas ou subtraem ou acrescentam ensinos ao que Jesus deixou.

Algumas pregam o liberalismo, duvidam da inspiração da Escritura, e pinçam do ensino de Jesus apenas aquilo que lhes apraz para satisfazer seus desejos carnais. Outras pregam o tradicionalismo, enchendo o ensino de Jesus de doutrinas humanas e legalismos.

Dificilmente uma igreja consegue ficar no caminho entre os dois excessos. Afinal, o caminho é estreito, e poucos passam por ele. Mas tenho fé que é possível restar um remanescente fiel.

    O caminho de Jesus é simples, não precisa-se virar um doutor em teologia para seguí-lo. O caminho de Jesus é o amor. Crescer no Evangelho não é buscar diplomas de teologia, mas simplesmente aprender com Jesus a forma correta de encarnar esse amor na nossa vida, no nosso dia a dia. Essa é a verdadeira santificação "sem a qual ninguém verá o Senhor". O que passar disso é invenção da religião.

Me entristeço muito quando vejo membros de igrejas tradicionais deixando de caminhar no caminho estreito em que deveriam estar, ficando aprisionados aos dogmas a eles impostos, achando que estão seguindo Jesus por estarem seguindo a cartilha da igreja.

Foi essa prisão em que vejo muitos encarcerados que me moveu a escrever sobre a Liberdade em Jesus. 

     De forma complementar, para entender o que realmente é Evangelho e o que é apenas tradição humana, sugiro a leitura dos seguintes textos:

1 - O que é realmente o tal Evangelho de Jesus?
2 - Afinal, por que a Lei foi dada?
3 - Usos e Costumes

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