segunda-feira, 4 de abril de 2016

A Simplicidade do Evangelho

O que mais se escuta hoje em dia é que a igreja precisa passar por uma nova reforma, visto que o movimento evangélico tem se distanciado e muito da simplicidade do Evangelho. No entanto, eu não concordo com isso. Por mais que a reforma de Lutero tenha tido bons resultados iniciais, em menos de 500 anos o movimento apodreceu de forma exorbitante.

O problema é que Lutero reformou a igreja apenas de forma doutrinária, mas muitos dos ritos e das institucionalidades continuaram. Não adianta reformar o que começou errado em sua raiz.

Ora, a igreja católica iniciou-se na forma de instituição depois dos anos 300 e deixou de ser a igreja simples do livro de Atos. Criaram o Clero, a supremacia da igreja-instituição, envolveram a igreja com política, a igreja passou a ficar encharcada com doutrinas e tradições humanas, ritos e misticismos que só se viam em meios pagãos.

Até que Lutero instituiu a reforma, mas o que ele fez foi só remendo de pano novo em veste velha. Em pouco tempo todos os erros contidos na igreja católica passaram a existir na igreja evangélica. As indulgências viraram dízimos e trízimos, a doutrina de que fora da igreja não há salvação continua de forma tácita na igreja evangélica, o movimento evangélico invadiu o parlamento e está totalmente envolvido com política, seus cultos estão repletos de tradições humanas e misticismos, sem falar no retorno às tradições judaicas e à lei de Moisés. Eu não vejo que um novo "remendo" possa curar isso. Minha visão é começar do zero, conforme Jesus fez.

Quando Ele veio estabelecer a nova aliança no seu sangue, não o fez a partir da religião farisaica. Ele não tentou reformá-la, pois sabia que não daria certo. Ele simplesmente saía e pregava a simplicidade do evangelho pelas ruas, praças, praias, e quando entrava no templo geralmente era contraditado pela religião instituída.

No começo o movimento cristão era apenas o Caminho, onde as pessoas se reuniam no primeiro dia da semana em casas para se edificarem mutuamente através da Palavra e se alegrarem com louvores cantados entre os irmãos. Nesse Caminho caminhavam em fé, vivendo em amor. Era essa a simplicidade.

Os próprios pastores evitavam viver uma vida clerical e tinham trabalhos comuns durante a semana como qualquer pessoa normal. O próprio apóstolo Paulo trabalhava como fazedor de tendas para não ser pesado à congregação. Vejamos o que ele disse já no final do seu ministério: “De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes; vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo.” (Atos 20.33,34). Esse padrão é bom de ser seguido se o pastor tiver homens experientes que o ajudem na liderança da igreja. Caso seja pesado de mais pode-se requerer um salário, não há pecado nisso. Porém, em vista dos crescentes escândalos de corrupção nas igrejas, minha recomendação é que uma igreja tenha vários líderes que possam conseguir revezar na ministração da Palavra para que em paralelo todos os líderes possam ter seus próprios empregos comuns.

Naquela época também não era necessário a criação de impérios televisivos para que a mensagem convertesse, pois quando se seguia a simplicidade que o Evangelho propõe “acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.” (Atos 2.47). Ao ponto de a igreja em pouco tempo conter cinco mil homens, afora mulheres e crianças. “Muitos, porém, dos que ouviram a palavra a aceitaram, subindo o número de homens a quase cinco mil.” (Atos 4.4).

Embora a igreja estivesse com grande número de pessoas, o povo vivia numa proximidade de amor e comunhão jamais vistos. “partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo.” (Atos 2.46,47). Para que essa proximidade ocorresse não eram necessários vários eventos especiais, nem cruzadas evangelísticas, mas sobressaia mais uma vez a simplicidade de viver o Evangelho entre os irmãos.

Eu sei que dificilmente alguém vai conseguir encontrar um lugar para se congregar nesses moldes, seja no meio evangélico ou católico. Mas eu também não aconselho que por conta disso alguém se torne um desigrejado.

Eu mesmo conheço algumas poucas boas igrejas evangélicas em que confio recomendar, mas também conheço singelos grupos que se reúnem em garagens e que nem por isso deixam de ser igreja. Aliás, os considero muito mais igreja do que as igrejas que existem por aí.

Não precisamos de uma nova reforma, precisamos tão somente internalizar a simplicidade do Evangelho em nós. Caso contrário, continuaremos tendo muitas atas, mas poucos atos.

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