O que me moveu a escrever esse
texto foi a quantidade de casos de autoritarismo que presenciei na liderança de algumas
igrejas. Pessoas são constrangidas a todo tipo de disciplina e exposição
imposta por pastores que pouco sabem como tratar alguém de forma coerente com o
Evangelho.
Jesus deixou os passos em Mateus
18 sobre como tratar um irmão que cometeu pecado.
“Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele
te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma
ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra
se estabeleça. E, se ele não os atender,
dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e
publicano.” (Mt 18.15-17)
1º - DANO AO PRÓXIMO
A característica do pecado que
precisa ser tratado por outros é aquele que causa dano direto a outrem: “Se teu irmão pecar contra ti...”.
Temos um exemplo claro desse tipo
de pecado em 1 Coríntios 5, onde havia alguém que estava possuindo a mulher do
próprio pai. O pai era o ofendido e o filho era o ofensor. Também em 1
Coríntios 6 Paulo cita um caso de demandas (não especificadas) entre irmãos,
onde o caso não poderia ser julgado em tribunal de incrédulos, mas perante a
igreja. Nesses casos, onde há dano ao próximo, é necessário a igreja intervir.
No entanto, não há embasamento para expor
alguém que cometa pecado fora dessa esfera. Expor publicamente alguém que vê
pornografia, fuma cigarros, ou ocasiona qualquer tipo de dano somente a si não é
algo correto.
Jesus quis que fosse assim porque esses tipos de
pecados estão em todos nós seja em um nível ou em outro. O próprio Apóstolo
Paulo chama ele mesmo de miserável em Romanos 7, posto não conseguir se livrar
de alguns pecados ou desejos pecaminosos que habitavam seu coração. O máximo
que ele conseguia era reduzir suas paixões carnais ao nível do comportamento,
justamente para não causar dano a ninguém.
Isso não significa que você não
possa aconselhar alguém que esteja passando por algum pecado pessoal, mas sua
interferência no caso sempre deve ficar no nível de conselho.
2º - O OBJETIVO É GANHAR O IRMÃO
Os passos contidos em Mateus 18
existem justamente para tentar evitar a exposição do indivíduo, para que o mesmo
não se afaste em função da vergonha pública consequente do seu ato.
Por isso Jesus começa ensinando
que o ofendido deve conversar pessoalmente com o ofensor. Se já nesse ponto ele
se arrepender: “ganhaste a teu irmão”. Quando
isso acontece não se deve levar a situação para a igreja. Não importa se foi um
pecado grande ou pequeno. Não importa se foi fofoca ou adultério. Foi resolvido
entre os dois e ponto, encerra-se o assunto.
Porém, caso não haja
arrependimento, continua-se o processo até chegar ao último nível de tentativa: abrir o caso à igreja. A partir daí a ação
deve ser conforme Paulo ensinou: “Quanto
aos que vivem no pecado,
repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam.” (1 Tm
5.20).
Se, mesmo após a repreensão
pública na igreja, a pessoa ainda continuar endurecida, a última atitude é a
exclusão considerando-o “gentio e
publicano”, ou, na linguagem de Paulo, deve ser “entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito
seja salvo no Dia do Senhor [Jesus]” (1 Co 5.5).
Essa atitude é a última tentativa
de ganha-lo, posto que ele será entregue a todos os seus prazeres sem que haja
a interferência da igreja, ao ponto de seus pecados chegarem a "destruir" a
própria carne (corpo), na tentativa de que assim ele perceba o buraco em que se
meteu e retorne a sã consciência no Evangelho.
Tudo indica que isso aconteceu com
o filho que tinha relações com a madrasta, pois foi readmitido na igreja após sua
exclusão (2 Co 2.5-9).
Portanto, a ação deve ser sempre
a mais discreta possível, começando de uma abordagem individual, passando por uma abordagem coletiva, e findando em abrir o caso à igreja somente em último caso, pois o objetivo é sempre
o arrependimento para "ganhar o irmão". Lembrando que todos esses passos devem ser feitos
através de uma “correção com espírito de brandura” (cf. Gl 6.1), ou seja, sempre
em amor visando a salvação e recuperação da alma.
No entanto, o que me deixa
entristecido é que em algumas igrejas esses passos não são seguidos, embora
sejam tão claros e fáceis de entender.
Pessoas que cometeram pecados
contra o próximo como adultério, mas se arrependeram, ainda assim são obrigadas
a fazer um teatro na frente da igreja. Por outro lado, alguns “irmãos” passam a
vida inteira lançando falso testemunho, fazendo fofocas, e cometendo outros
pecados que também causam dano ao próximo, mas não são tratados nem em
particular e nem posteriormente em público, pois são pecados “menores” e
moralmente aceitáveis. Hipocrisia!
Ainda há os pastores que expõem as
pessoas por motivos que nem pecados são. Sobre esses eu nem comento, Deus os
julgará!
Maranata!
Nenhum comentário:
Postar um comentário