Todo o país tem acompanhado o escandaloso caso envolvendo a pastora e deputada Flordelis. Não quero e nem acho necessário entrar no caso pessoal dela, mas usarei esse acontecimento como pano de fundo para tratar de um tema mais amplo que infelizmente é comum no meio religioso: a hipocrisia.
A hipocrisia é uma espécie de fantasia ou disfarce que as pessoas usam para parecer algo que não são. Todo mundo tende a agir assim em um momento ou outro na vida. Porém, no meio religioso isso acontece de forma mais exacerbada pelo fato de existir uma certa esquizofrenia pregada pela religião. Num momento eles pregam que todos são pecadores, mas em outro impõem um rígido e elevado padrão moral a ser seguido pelos membros da congregação, padrões estes que Jesus nunca exigiu. O resultado desse tipo de evangelho distorcido é um povo escondido debaixo da capa da hipocrisia.
Em Marcos 14.51
diz que perto do momento da crucificação havia um jovem nu que seguia Jesus. É um
versículo isolado relatado apenas no livro de Marcos. No entanto, esse
versículo sempre me levou a refletir que a forma correta de seguir Jesus é de
forma desnuda diante dele. Ora, não há porquê escondermos algo diante daquele
que sonda mentes e corações.
Eu sempre
busquei o seguir dessa forma. Foi por isso que há anos atrás resolvi romper com
o movimento evangélico. Eu gozava de certo prestígio nesse meio e tinha
conexões familiares que me podiam fazer “ir longe”. Mas abri mão de ser chamado
filho da filha de Faraó. Eu já não acreditava que o movimento evangélico
representava o evangelho de Cristo na Terra, ficar naquele meio em troca de
cargos eclesiásticos seria hipocrisia.
Não devemos
medir consequências para vivermos de forma sincera diante de Deus e diante do
nosso semelhante. Deus requer adoradores que o adorem em espírito e em VERDADE.
Isso mesmo, em verdade. Ele não quer adoradores que o adorem envoltos por uma
capa de dissimulação. Se não nos tornarmos como crianças, na sua singeleza e
sinceridade, jamais herdaremos o reino dos céus.
Ele prefere
ser adorado por uma prostituta sincera do que pela líder de casais que às
escuras engana e trai seu marido; Ele prefere ser adorado por um homossexual
assumido que por um diácono casado que se relaciona escondido com o amigo líder
do coral da igreja; Ele prefere o ateu de bem que o religioso que o nega através
das suas práticas ímpias; Ele prefere o publicano pecador que clama por
misericórdia que o fariseu que acha que pode comprar sua relação com Deus
através daquilo de bom que pratica.
Jesus disse que
suas ovelhinhas deveriam se acautelar do fermento dos fariseus, que é a
hipocrisia (cf. Lc 12.1). Não há melhor comparação que essa. O fermento incha a
massa, torna ela mais vistosa, porém vazia, visto que o volume é apenas “ar”. Assim
é a hipocrisia, ela é vistosa aos homens, porém vazia de significado diante de
Deus.
Quando a
motivação de alguém fazer algo é impressionar os homens, há uma grande possibilidade
de se cair em hipocrisia. Isso gera uma inversão de valores perigosa. Os homens
se atentam ao que veem do lado de fora, Deus ao que vê do lado de dentro. Por
isso que Jesus falou que os fariseus se preocupavam tanto com o exterior que
negligenciavam os principais preceitos da Lei: a justiça, a misericórdia e a
fé. Eles faziam de forma mecânica as suas boas obras, mas sem amor, de nada
aproveitava, ainda que removessem montes de lugar. Da mesma forma, de maneira
mecânica faziam seus julgamentos, preferindo apedrejar a mulher adúltera que perdoá-la,
sob a justificativa que estavam respaldados pela “lei”.
Foi para
manter as aparências do que está do lado de fora que a religião já cometeu as
maiores atrocidades em nome de Deus. A Flordelis preferiu, às ocultas,
assassinar o próprio marido que se divorciar dele, pois segundo ela o divórcio “escandalizaria
o nome de Deus”.
Jesus disse que
os fariseus coam mosquitos, mas aceitam camelos. E isso é justamente resultante
da inversão de valores proposta pela religião. Se preocupam com coisas
pequenas: com o decote da irmã, com cabelo longo do irmão, com a tatuagem do
adolescente, mas esquecem de tratar daquilo que ninguém vê, mas que Deus vê: o
próprio coração.
Excelente texto, e todas as colocações sobre o tema estão alinhadas a proposta, parabéns. Só me resigno a dizer que o caso dessa "personagem" indeferi dela ser religiosa ou não - embora concorde com os impactos refletidos por sua influência no meio - a questão é que sendo religiosa não a torna menos ou mais criminosa. Ricardo Bispo
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