“Ora, quem é que vos há
de maltratar, se fordes zelosos do que é bom?” (1 Pedro 3:13)
O Presidente Bolsonaro, em
um discurso feito na ONU, afirmou que há uma espécie de “cristofobia” que
permeia a sociedade. No dia de ontem, duas igrejas foram incendiadas no Chile,
o que fez com que novamente o termo “cristofobia” fosse posto em discussão.
Jesus, em sua época, de fato sofreu severas perseguições. E disse: “Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros” (João 15:20). Porém, é importante que seja analisado qual a motivação e qual grupo que perseguiu Jesus. Devemos nos perguntar se os cristãos hoje são perseguidos pelos mesmos motivos que o foram Jesus e os Apóstolos.
O texto de 1 Pedro 3:13
afirma que não há perseguição quando se faz o que é bom. A sociedade nunca irá
maltratar alguém que pratica gestos louváveis. Quem vai perseguir alguém que
defende a causa do oprimido, busca justiça aos necessitados, luta pela verdade,
pela pacificação, ou que busca ajudar a quem precisa? Dificilmente um cristão
será perseguido por agir como Cristo agiu. E se for, Ele nos manda exultar e
alegrar, pois será grande o nosso galardão (cf. Mateus 5:12).
O problema é que os
cristãos de hoje não são perseguidos por praticarem aquilo que Cristo praticou,
mas sim por praticarem dogmas da religião. Existem ditos cristãos que não
permitem que mulheres usem maquilagem; não permitem que usem roupas de banho na
praia; não permitem que usem tatuagens; não permitem que escutem músicas
seculares. Enfim, não permitem que façam coisas normais sob o argumento que
devem ser diferentes do “mundo”. Ora, Jesus nos chamou a sermos diferentes, mas
não nos chamou a sermos estranhos. Se você é perseguido por defender essas bobagens,
você não está sendo perseguido por causa do Evangelho, está sendo perseguido
por ser chato mesmo. Jesus se dava muito bem com aqueles que a religião chama
de “mundanos”. Comia, bebia, participava de festas, se alegrava e andava com
publicanos e pecadores.
Os exemplos anteriores
foram bem bobinhos, pois se tratam apenas de doutrinas humanas. Mas existem
também as doutrinas que realmente são bíblicas. Como defender que o padrão de
casamento é entre homem e mulher; defender que o homem exerce liderança na
família; defender que não se deve mentir, adulterar, etc. Nesses casos, é justo
que o cristão siga essas coisas. O problema é quando eles tentam impor esse
padrão como algo normativo da sociedade mediante a política. Jesus nunca agiu
assim. Ele nunca buscou Pilatos, Herodes, ou César para que fosse baixado um
decreto em que toda sociedade devesse ser heterossexual. Jesus simplesmente recebia
e tratava daqueles que QUERIAM ser mudados, sem nenhuma imposição.
Se a atuação dos cristãos
na sociedade se restringisse a apenas, conforme 1 Pedro 3.13, fazer o que é “bom”,
não haveria perseguição. Só existe um grupo que ficaria injuriado com os que
praticassem as obras de Cristo na Terra, seria o mesmo grupo que se irritou com
Ele quando fazia o bem em dia de sábado. Sim, me refiro aos religiosos. A
religião não suporta a liberdade e amor que o Evangelho traz, posto que isso
mexe com suas estruturas de poder.
Por mais paradoxal que
pareça, é a religião que persegue a Cristo e não a sociedade. Foi contra os
religiosos que Jesus travou seus mais intensos debates; foi contra eles que
Jesus se dirigiu de forma mais veemente, chamando-os de hipócritas; foi contra
eles que Jesus fez uso da força, dando-lhes chicotadas, virando mesas e os
expulsando do templo. Não chegou a queimar nenhuma igreja, mas afirmou que não
ficaria pedra sobre pedra do templo de Jerusalém.
Não existe cristofobia, o
que existe é cristianismofobia. A religião cristã, que usa como fachada o nome
de Jesus, realmente sofre perseguição da sociedade, mas não por causa do
Evangelho e sim pelos absurdos que profere em nome de Deus.
O povo simples de Deus
que anda em amor e que muitas vezes nem igreja tem, dificilmente sofrerá
perseguição da sociedade. Eles preferem estender a mão a julgar; preferem
perdoar a revidar; preferem restaurar a destruir; preferem acolher a espalhar;
preferem dividir a acumular; preferem servir a ser servidos. Qual tipo de
sociedade odiaria gente assim?
Sendo assim, é preciso
entender a diferença entre cristofobia e cristianismofobia. Ninguém há de ter
medo de um homem que pregou o amor e a igualdade, mas violência já foi
e é praticada em seu nome. É preciso que sejam postos os pingos nos is.
Nenhum comentário:
Postar um comentário