Em
Eclesiastes 3.11 é dito que Deus pôs a eternidade no coração do homem. Nossa
alma almeja por eternidade. E quando falo de eternidade, não me refiro apenas
ao que chamamos de Reino dos Céus. Nós queremos eternidade em tudo a que nosso
coração se apega, a toda conexão emocional que construímos.
Bauman afirma que a liquidez dos relacionamentos é o fator mais adoecedor dessa geração. A dor da quebra de um relacionamento pode ser mais profunda do que a dor da morte. Na morte ao menos se tem a esperança do reencontro em outro plano. Porém, quando se finda um relacionamento em vida a esperança do reencontro acaba, visto que existindo a possibilidade de reencontrar, opta-se pelo distanciamento. Não há dor maior que essa.
Como
eu disse, nossa alma almeja por eternidade. Porém, não somos dotados apenas de
alma. Temos um corpo, e esse corpo não é ligado ao que é eterno. Nossa carne é
constituída de todo tipo de paixão efêmera, temporal, passageira. Em função
dessas paixões, pomos em risco o que deveria ser eterno.
As
paixões a que me refiro não precisam ser, necessariamente, paixões sexuais.
Muitas vezes relacionamentos são quebrados por orgulho, medo, inveja, ciúme,
insegurança, e tantas outras paixões que Paulo denomina de paixões da carne.
O
fim de um relacionamento é como uma morte. Algo acaba. Algo morreu. Mas era uma
morte que não precisava e nem deveria acontecer. Se acontece, acontece por
conta da nossa natureza terrena, ou na linguagem de Jesus, por conta da "dureza
do nosso coração".
As
consequências são terríveis. Não falo de inferno. Deus não vai jogar alguém lá
por causa disso. Me refiro às consequências em vida. A dor da saudade, a dor da
quebra de planos, a dor das recordações, a dor do fim da convivência, a dor do
fim de uma história. Junto com as dores vêm as doenças, as crises de ansiedade,
crises de pânico, depressão, e tantas outras. Quanto mais forte era o laço
emocional, mais forte são as consequências do fim do relacionamento.
Quando
um relacionamento acaba, Jesus presa pela restauração. A restauração tende a
diminuir as consequências do dano já causado. Quando rompemos com um amigo,
Jesus manda deixar a oferta sobre o altar e ir ter com ele para restabelecer os
laços. Quando um matrimônio acaba, Paulo afirma que deve haver a reconciliação
(1 Co 7.11).
No
entanto, mais uma vez as paixões carnais criam uma barreira. O nosso coração
sabe que devemos buscar se reconciliar, mas o medo de que tudo aconteça
novamente, a raiva do que já aconteceu, o orgulho de não querer dar o braço a
torcer, e tantas outras paixões nos impedem de agir pela restauração.
Isso
me lembra a luta entre homem carnal e homem espiritual de Gálatas 5.17. Acaba
vencendo aquele que você mais alimenta.
Eu
não estou aqui para julgar aqueles que se deixaram vencer nessa luta. Eu a
ninguém julgo. Pelo menos busco não fazê-lo já há muito tempo. O Evangelho tem me
ensinado a acolher e a não julgar. Porém, preciso alertar sobre as consequências.
Eu já as senti diversas vezes em minha carne, por isso me sinto no dever de
fazê-lo.
Eu
já escrevi várias vezes sobre fins de relacionamento. Quando escrevi, não
escrevi com o objetivo de incentivar. Eu jamais buscaria incentivar tamanha dor
a alguém.
Sendo
assim, me sinto no dever de balancear, incentivando a que busquem o que é
eterno. Buscai o que é do alto e não o que é terreno, como disse Paulo. Lutem
para que relacionamentos não sejam quebrados. E se algo quebrar, lutem pela
restauração. Isso é bom e agradável a Deus, e contra essas coisas não há Lei.
E
que o Deus de amor nos ajude a completar em paz nossos dias sob o tabernáculo
dessa carne corruptível que nos impede de sermos Cristo no próximo. Miserável homem que sou. Paixões da carne me destroem a cada dia. Por
graça, na mesma medida as misericórdias de Deus se renovam, não fosse assim já
havia sido consumido.
Cada
dia entendo mais o dilema de Paulo em Romanos 7, quando disse que “o bem que
quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço”. Texto discutido e debatido
entre teólogos por séculos. Consegui interpretá-lo na vida.
Quando
passamos a nos enxergar de forma desnuda diante de Jesus como o fez o homem nu
que o seguia na via crucis, passamos a entender o que Paulo quis dizer.
Nele,
que nos fez para que sejamos um com o próximo, assim como ele é um com o Pai.
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