sábado, 7 de fevereiro de 2015

Afinal, por que a Lei foi dada?

Em outros textos já mostrei que embora a Bíblia seja a Palavra de Deus, muito do que nela está escrito tem caráter transitório e circunstancial, especialmente no que se refere ao Antigo Testamento. E vimos que só em Jesus nós temos a plenitude da revelação de Deus, a qual nós denominamos de Evangelho.

Muitos cristãos não entendem que a Lei de Moisés foi cumprida por Jesus. Por não entenderem isso, ficam a discutir quais mandamentos da Lei continuam e quais foram abolidos por Ele. Mas a verdade é que não há como a Lei estar em vigor em partes. Ou ela foi aniquilada na Cruz como um todo ou não foi.

Da mesma forma que a Lei foi selada por Moisés conjuntamente como uma só (cf. Ex. 24.8), ela só poderia ser abolida na sua totalidade. É por isso que Paulo escreve: “se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. De novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a guardar toda a lei.” (Gl 5.2-3). O que ele está dizendo não se restringe apenas a circuncisão, mas a qualquer mandamento da Lei. Se alguma pessoa quiser fazer valer sua salvação pela guarda de qualquer mandamento da Lei, este precisará cumpri-la toda. Porém, quando o homem comum percebe a quantidade e meticulosidade dos mandamentos da Lei unidos a força da nossa carne pecaminosa que nos joga contra eles, este passa a perceber que é impossível que alguém herde o céu por merecimento próprio.

Graças a Deus por Jesus Cristo, que cumpriu em nosso lugar toda essa perfeição requerida pela Lei, pois nunca poderia ser cumprida pelo homem!

Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho... a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós” (Rm 8.3-4).

Assim, todo e qualquer mandamento que você possa imaginar que exista foi cumprido por Ele. Para constatarmos isso, vejamos a vida de Jesus em contraste com os dez mandamentos contidos em Êxodo 20 – que funcionam como uma espécie de resumo de toda a Lei, pois não teríamos tempo de analisá-la de forma completa e minuciosa.

Não terás outros deuses: os dois primeiros mandamentos se referem à idolatria. Em Mateus 4.10 Jesus foi tentado a adorar outra entidade, mas resistiu e disse: “só a teu Deus adorarás”;

Nome de Deus em vão: Jesus quando foi tentado a clamar a Deus em vão em Mateus 4.7, respondeu: “não tentarás o Senhor, teu Deus”;

Sábado: Jesus sempre cumpria a guarda do sábado, mas muitas vezes o “violava” para fazer o bem, pois conforme sua interpretação o amor é maior que a Lei e fazer o bem em dia de sábado não era considerado por Ele uma violação (cf. Mt 12.12);

Honra teu pai e tua mãe: em João 2.3-10 Ele obedeceu a sua mãe ao transformar água em vinho nas bodas de Caná, ainda que essa não fosse sua ideia original, pois “não era chegada a sua hora”;

Não matarás: além de Jesus nunca ter matado fisicamente ninguém, livrou da morte a mulher adúltera de João 8, ressuscitou Lázaro em João 11 e oferece vida eterna a todos os que se cheguem a Ele em fé;

Não adulterarás: Jesus nunca casou e, portanto, nunca cometeu adultério;

Não furtarás: Jesus nunca furtou nada de ninguém. Ao contrário, o que tinha distribuía entre os pobres e pagava sempre quando lhe requeriam impostos (cf. Mt 17.24-27);

Falso testemunho: Jesus nunca deu falso testemunho. Ao contrário, Ele é quem foi alvo de várias calúnias ao ponto de Pilatos se admirar de que ainda assim permanecesse calado (cf. Mt 27.14);

Além dos mandamentos do decálogo de Êxodo 20, Jesus cumpriu todos os outros mandamentos da Lei, inclusive desde o seu nascimento:

Circuncisão: em Lucas 2.21 Ele começou a cumprir a Lei desde o seu nascimento, quando foi circuncidado ao oitavo dia conforme a determinação de Moisés em Levítico 12.1-3;

Apresentado no Templo: Posteriormente em Lucas 2.22 Ele foi apresentado no templo conforme requeria Êxodo 13.12-15 e foram feitos os sacrifícios conforme Levítico 12.8;

Não ouve mandamento que Jesus não tenha cumprido. Veja que no começo do seu ministério Ele disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.” (Mt 5.17-18).

No final do seu ministério, após sua ressureição, Ele concluiu: “A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.” (Lc 24.44).

Ele cumpriu tudo. Aleluia! Não só cumpriu, mas também oferece aos que creem gratuitamente justificação perante Deus. “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1).

É como se a justiça de alguém que nunca quebrou um mandamento sequer da Lei repousasse sobre nós pela fé. “Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça.” (Rm 4.5).

No entanto, o não entendimento dessa verdade é uma situação antiga no cristianismo, posto que o primeiro concílio da história da igreja foi realizado para debater esse tema.

A descrição dessa situação está em Atos 15, mas tentarei resumi-la aqui. O que acontece é que fariseus que haviam se convertido ao cristianismo estavam espalhando aos novos convertidos o ensino de que “é necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés (cf. Atos 15.4). Porém, tendo havido um forte debate entre eles e Paulo, ambos subiram para a igreja de Jerusalém com o objetivo de analisar esse assunto juntamente com os demais apóstolos. Ao chegarem ao local, levantou-se grande debate, mas Pedro concluiu dizendo: “por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais puderam suportar, nem nós? Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus” (cf. Atos 15.10-11). Após isso, sabiamente Tiago levantou-se e argumentou que nas cidades em que houvessem muitos judeus, dever-se-iam os cristãos absterem-se das “contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue” (cf. Atos 15.20).

Pelo fato dessas práticas serem tidas como uma grande afronta aos judeus, Tiago entendia que seria bom que os crentes abrissem mão dessa liberdade para que isso não se constituísse numa barreira para a pregação do Evangelho a eles – esse tema é mais amplamente apresentado no texto "Usos e Costumes".

Agora que entendemos que a Lei foi cumprida por Cristo e que o cristão não precisa da muleta de Moisés para caminhar – posto estarmos num caminho sobremodo excelente – a pergunta que paira é: por que a Lei foi dada? Sendo Jesus melhor, por que ele não veio logo no começo da história?

Paulo nos dá algumas pistas acerca de qual foi a necessidade da lei mosaica ter vindo antes de Jesus: 1) era um tutor; 2) sombra do que havia de vir; 3) foi adicionada por causa das transgressões; 4) veio para que avultasse a ofensa.

1 – ERA UM TUTOR

Um tutor é um cuidador, que geralmente acompanha a criança até que ela esteja formada e com uma consciência capaz de cuidar de si mesma. É a um tutor que Paulo compara a Lei, e os judeus do passado são comparados a crianças que precisavam amadurecer a consciência antes de receber a mensagem plena da fé no Evangelho.

“Digo, pois, que, durante o tempo em que o herdeiro é menor, em nada difere de escravo, posto que é ele senhor de tudo. Mas está sob tutores e curadores até ao tempo predeterminado pelo pai. Assim, também nós, quando éramos menores, estávamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo; vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.” (Gálatas 4.1-5).

Um dos principais objetivos da Lei era conscientizar o povo acerca de quem Deus era e o que Ele requeria do seu povo. Esse sentido paidagogicus (pedagogo, do grego) da Lei pode ser observado no fato de existir um ensino infiltrado por trás de cada mandamento da Lei. Vejamos alguns:

Em Dt 22.11 diz “Não te vestirás de estofos de lã e linho juntamente”. A preocupação de Deus não era qual o tipo de roupa que as pessoas usavam, mas que através desse mandamento o povo judeu passasse a entender que não é boa a mistura de coisas tão distintas – a lã tem origem animal e o linho tem origem vegetal. O objetivo era fazer o povo de Deus entender que não deveriam mesclar práticas boas com práticas perversas que sejam completamente diferentes da essência de Deus. Paulo reafirmou esse princípio quando disse ser impossível haver união da luz com as trevas em 2 Coríntios 6.14.

Quando Deus proíbe de forma tão severa alguém comer carne com sangue em Levítico 17.10, Ele na verdade está querendo ensinar o povo o valor que o sangue tem, pois nele está a vida (vs. 11) e seria através de um derramamento futuro de sangue (sangue de Cristo) que a vida deles seria salva. Por isso muitos judeus se escandalizavam quando Jesus dizia: “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele.” (João 6.56).

Quando Deus instituiu a entrega do dízimo para o sustento do levita, órfão e a viúva em Dt 26.12, Ele queria exercitar a generosidade na consciência dos judeus em relação a obra do Senhor (levitas) e em relação aos necessitados (órfãos e viúvas). Embora o letrismo dos 10% tenha caducado juntamente com os demais mandamentos da Lei, o princípio de generosidade livre em relação a esses temas continua e foi diversas vezes reafirmado por Jesus e os apóstolos.

O próprio mandamento da circuncisão que foi dado a Abraão em Gênesis 17.10 tinha como objetivo ensinar que para alguém estar pactuado com Deus, este precisaria despojar da sua carne (significando os desejos carnais) e passar a andar no Espírito. Foi isso o que Paulo disse “Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo” (Cl 2.11).

Paulo confirmou esse tipo de interpretação dos mandamentos do Antigo Testamento quando diz em 1 Coríntios 9.9-11: “Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa? Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais?”. Assim, vemos que havia um princípio por trás do mandamento relacionado aos bois que Deus queria que fosse discernido. Isto é, os trabalhadores do Reino têm direito de viverem do Reino se assim quiserem. Ou seja, veja que o "mandamento seco" sempre trazia um ensino infiltrado.

Em Romanos 7.6 Paulo fala que a letra do mandamento caducou, esclerosou, caiu em desuso. Mas, conforme foi visto, os princípios por trás deles são eternos. Por isso ele diz que Jesus “aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças (Ef 2.15). Isso significa que as ordenanças da Lei na forma letrista não tem mais força sobre nós que estamos em Cristo, pois nele nós devemos ter a consciência amadurecida nos princípios eternos de Deus que partem do amor.

Por exemplo, baseado no princípio eterno da justiça Divina, ainda hoje o mandamento “não matarás” se aplica. No entanto, se aplica não porque a Lei ainda tenha força em nossos dias, mas porque o princípio eterno da justiça de Deus nos leva a aplicar esse mandamento em qualquer época, não importa se anteriormente ou posteriormente à Lei ter sido dada.

No Novo Testamento nós encontramos o mandamento “saudai-vos com ósculo santo” (cf. 1 Co 16.20), que nada mais é que uma aplicação circunstancial do princípio do amor – pois era uma forma de mostrar respeito e amor pelos irmãos. Em nosso contexto a aplicação desse princípio seria um aperto de mão ou um abraço, no máximo. Mas a ordenança letrista do ósculo não tem mais aplicabilidade em nossos dias.

Portanto, a letra do mandamento seco caducou, mas os princípios ficam porque sempre existiram por serem a essência do próprio caráter de Deus, e foi para enraizar esses princípios na consciência dos judeus que os mandamentos pedagógico-circunstanciais da Lei vieram antes da manifestação de Jesus na plenitude dos tempos.

2 – SOMBRAS

“Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas” (Hb 10.1).

Há ainda outro tipo de fator conscientizador que pode ser encontrado na Lei: os contidos nos cerimoniais, ritos, e elementos do templo. Esses cerimoniais serviam para amadurecer na consciência do povo tudo aquilo que Jesus representaria no que se refere à redenção deles. Portanto, além da Lei ser um tutor nos guiando e ensinando por meio de mandamentos transitórios aquilo que Deus requer de nós, a lei também ensinava por meio de sombras a plenitude daquilo que Jesus seria para o mundo.

Os sacrifícios de animais, por exemplo, prefiguravam o sacrifício de Jesus por nós na cruz. O sacrifício pelos pecados dos sacerdotes, pelos pecados do povo, por pecados de ignorância, pecados voluntários e involuntários, por sacrilégio, e todos os outros sacrifícios descritos na Lei eram sombras do sacrifício real que haveria de vir em Jesus.

O propiciatório descrito em Êxodo 25.17-22 era um elemento que fazia com que Deus ficasse propício a perdoar os pecados do povo. Esse objeto era uma representação daquilo que Jesus seria por nós, pois “ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro.” (1 João 2.2). Só Jesus torna Deus propício a nos perdoar!

Quando Salomão inaugurou o templo, ele pediu ao Senhor que todos aqueles que fizessem súplicas de misericórdia e perdão de pecados ao Pai estando dentro do templo (se estivessem fora de Jerusalém poderiam fazer com o rosto virado para o templo), que o Senhor aceitasse suas súplicas. Isso nada mais era que uma prefiguração daquilo que Jesus faria pela humanidade sendo nosso advogado junto ao Pai em nosso favor (cf. 1 João 2.1). Por isso que Jesus disse: “aqui está quem é maior que o templo.” (Mateus 12.6).

O maná era uma espécie de pão que Deus enviou aos israelitas durante toda a sua peregrinação pelo deserto para alimentá-los. Isso nada mais era que a representação de Jesus, que disse: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente” (João 6.51).

O objetivo imediato do sábado na Lei era dar ao povo um dia de descanso para que eles pudessem refletir e buscar a face do Senhor sem ter de se preocupar com os afazeres diários. No entanto, essa realidade também era a prefiguração de um descanso futuro que os salvos gozariam nos céus, conforme explica Hebreus 4.3-10. Nós já gozamos desse descanso de forma espiritual através de Cristo, pois “juntamente com ele, [Deus] nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Ef. 2.6). Assim, embora o sábado tenha sido cumprido na obra de Cristo, o princípio ainda continua, sendo extremamente importante nós pararmos em algum momento as atividades laborais dessa vida para podermos exercitar nosso lado espiritual, ainda que não mais exista um dia específico para isso.

As cinco principais festas judaicas descritas em Levítico 23.4-44 também tinham o papel de amadurecer a consciência do povo acerca da pessoa do Messias que haveria de vir. De forma resumida podemos verificar: a páscoa ensinava que a ira de Deus passa por sobre aquele que está protegido pelo sangue do cordeiro, conforme ocorreu na saída dos judeus da terra do Egito. Prefigurando, assim, que Jesus é o nosso cordeiro pascal (cf. 1 Co 5.7); o pentecostes era também conhecido como a festa das primícias que celebrava a primeira colheita do ano feita no campo dos judeus. Da mesma forma, “Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem.” (1 Co 15.20); a festa do Dia da Expiação era um dia para levar oferta queimada ao Senhor para fazer expiação pelos pecados. Jesus expiou, apagou, jogou nas profundezas do mar os nossos pecados através da sua oferta voluntária na cruz; e finalmente temos a Festa dos Tabernáculos, que prefigurava Deus tabernaculando conosco. Este é o significado de Emanuel, Deus conosco na pessoa de Jesus.

Portanto, meus irmãos, “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir” (Cl 2.16-17). Em Jesus todos os ritos e cerimoniais da Lei perderam sua validade, visto que Ele é o cumprimento de todas essas coisas.

 3 – FOI ADICIONADA POR CAUSA DAS TRANSGRESSÕES

Deus pretendia fazer de Israel um Estado teocrático – significando que as ordenanças de Deus regeriam a nação. No entanto, nem todos os de Israel eram de fato israelitas, pois não seguiam o caminhar de fé conforme seu pai segundo a carne, Abraão.

Assim, existiam na nação de Israel os israelitas que eram verdadeiramente salvos e desejavam seguir a Deus de forma sincera amando o próximo e buscando justiça, mas haviam os israelitas não-salvos habitando juntamente com eles. Então, a Lei “foi adicionada por causa das transgressões” (cf. Gl 3.19), para que os salvos e os não-salvos pudessem conviver o mais harmoniosamente possível entre si.

Essas leis regulavam a convivência social nos mais diversos setores da sociedade. Por isso existiam leis acerca da propriedade, leis em relação ao roubo e ao furto, leis em relação aos escravos, leis em relação aos doentes; enfim, haviam as mais variadas leis reguladoras que traziam consequências a todos os que as infringiam. “Tendo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes” (1 Tm 1.9).

Após a obra redentora de Cristo, todos os salvos foram reunidos em um só corpo num sentido espiritual (cf. Ef 2.11-22), significando que Deus não é mais representado pelo Estado teocrático de Israel, mas por todos os salvos ao redor do mundo que são descendentes de Abraão conforme a fé e não conforme a genealogia (cf. Gl 3.7). Portanto, as leis que regiam esse Estado teocrático perderam a sua validade após a obra de Cristo e não se aplicam à Igreja.

4 – AVULTASSE A OFENSA

“Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa” (Rm 5.20). Esse é outro motivo pelo qual a Lei foi dada: deixar mais claro o quanto o homem é transgressor. A Lei é uma espécie de régua de medir de Deus, que serve para mostrar o quanto o padrão de Deus é elevado no que se refere ao que Ele requer de santidade.

Com a Lei o homem entendeu que o que ofende a Deus não é somente matar e roubar, como a maioria pressupõe. A extensão e minuciosidade da Lei mostra que somos completamente incapazes de cumpri-la de forma plena, precisando nos entregar em fé ao único que a cumpriu toda, em nosso lugar, Jesus Cristo.

“Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.” (Romanos 3.19-20).

Assim, a Lei precisou vir antes de Cristo para que conscientizasse o homem acerca da sua total depravação, ajudando que a humanidade entendesse que não há outro meio de salvação que não seja Cristo.

CONCLUSÃO

Vemos, portanto, que “a lei nos serviu de aio [condutor] para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé” (cf. Gl 3.24). Se Jesus tivesse vindo antes que essa conscientização ocorresse, a mensagem do Evangelho não seria assimilada.

Logo, hoje nós vivemos sob outra Lei – estabelecida pelo nosso novo Sumo Sacerdote, Jesus Cristo (cf. Hb 5.10). Sabendo que “quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei” (cf. Hb 7.12). Assim, vivemos agora sob a “Lei de Cristo” (cf. Gl 6.2), que é a mesma “Lei da liberdade” (cf. Tg 1.25), que nada mais é que a Lei do amor na consciência do Evangelho.

 “Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê” (Romanos 10.4).



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