domingo, 6 de dezembro de 2015

Endeusando Pregadores

“O conselho que Aitofel dava, naqueles dias, era como resposta de Deus a uma consulta; tal era o conselho de Aitofel, tanto para Davi como para Absalão.” (2 Samuel 16.23)

Esses dias estava lendo a rebelião de Absalão contra o rei Davi, seu próprio pai, e esse verso me chamou atenção como nunca havia chamado antes. Fiquei refletindo o quão perigoso é alguém achar que existem tais pessoas que, qualquer pronunciamento, qualquer opinião, qualquer interpretação feita é verdade como se fosse palavra de Deus.

Existem pregadores que têm uma capacidade argumentativa tão grande, uma retórica tão aguçada, um nível filosófico tão elevado, que por assim serem são tidos por detentores da verdade divina. E todo o povo passa a os divinizar e a segui-los cegamente.

Muitos desses pregadores são até bem intencionados e não querem assumir o papel de deuses na vida das pessoas. Porém, as pessoas os têm como tal.

O texto diz que o conselho de Aitofel era tido como palavra de Deus por Davi e por Absalão, e não pelo próprio Aitofel. Assim, existem pregadores que se endeusam, e existem pregadores que são endeusados pelos outros.

A cegueira das pessoas chega a um nível tal, que seguem ensinos totalmente contrários ao que Deus diz, sem ao menos perceberem isso. Nos versículos anteriores Aitofel aconselha Absalão a cometer adultério com as mulheres do próprio pai para que isso fortalecesse seu reino. Assim ele fez, e o conselho pareceu dar resultado, mas isso não significa que foi algo agradável aos olhos de Deus.

Ora, nem eu mesmo quero que alguém me siga cegamente. Se o que eu falar estiver concorde com a verdade em Jesus, a palavra deve ser acolhida, mas não por ser propriamente minha, antes por estar de acordo com o evangelho da verdade.

É por isso que as pessoas precisam ter um mínimo de conhecimento do evangelho, para terem um parâmetro de comparação e assim não se deixarem levar por ensinos falsos. O que mais alimenta a indústria de falsos mestres é a ignorância do povo em relação a palavra de Deus.

Quando Paulo e Silas chegaram a Bereia e começaram a anunciar a Palavra nas sinagogas dos Judeus, o texto diz que estes “receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.” (Atos 17.11).

Não devemos desprezar quem prega a Palavra, mas devemos simplesmente ter um mínimo de senso crítico para verificar se o que está sendo dito está de acordo com o ensino de Cristo ou não.

Não sou do tipo que diz que só se deve escutar pregadores da religião A, ou doutrinadores da escola B. Ao contrário, defendo que as pessoas devem ter maturidade para receber de tudo, e reter o que é bom (cf. 1 Ts 5.21). Eu mesmo desde novo na fé leio material de todos os tipos de autores, desde católicos como Agostinho de Hipona, chegando aos reformadores, passando pelos puritanos, até aos teólogos da atualidade. Nenhum deles são donos da verdade para mim, não os vejo como Aitoféis. Mas todos têm algo bom para ensinar, e esse “bom” é o que eu busco reter para mim.

Gostaria também de encorajar os pregadores de boa fé a pregarem apenas Jesus, conforme Paulo ensinou que se fizesse: “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.” (1 Co 2.1,2).

Já ouvi pregações onde os pregadores davam aula de história, política, palestras de autoajuda, adestramento nas dogmatizações da igreja, enfim, falavam de tudo, menos de Cristo e seu ensino. Com isso nem me refiro aos malucos que fazem as pessoas pularem, caírem, deitarem e rolarem por meio de indução psíquica, pois para mim eles nem podem ser chamados de pregadores. Estou falando de gente boa de Deus, que querem ser fiéis no ensino, mas acabaram indo por outras veredas. Esses precisam reencontrar o foco do ensino da Palavra.

Eu, por exemplo, quando prego, tenho como único objetivo construir a mente de Cristo em meus ouvintes. É fazê-los entenderem mais acerca da obra de Cristo no que se refere às maiores subjetividades da salvação, para que possam descansar na graça e no amor de Deus. E fazê-los entender o evangelho na forma prática, para que saibam caminhar de forma saudável nessa vida, conforme Jesus caminhou.

Meu ensino é essa simplicidade, e quem já me ouviu sabe que assim é. Nunca vou ser tido como um grande teólogo, nem vou escalar o topo dos ministérios eclesiásticos nas maiores igrejas e nos maiores seminários do Brasil. Isso sinceramente não me atrai. Na grande maioria desses lugares só tem gente ensinando o que as pessoas nem querem nem precisam ouvir.

Em suma, devemos saber que não existem pastores ou pregadores perfeitos. Portanto, olhemos para o único Pastor das nossas almas, aprendamos dele, que é manso e humilde de coração. Aos demais, os tenhamos com todo respeito, mas não o coloquemos como Aitoféis em nossas vidas.


“Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Romanos 11.36)