sexta-feira, 8 de junho de 2018

Sobre a Existência do Inferno


É muito difícil elaborar um ensino sobre o inferno porque a Bíblia fala muito pouco sobre ele de forma clara. Nem mesmo os primeiros estudiosos da igreja entravam em consenso quanto a esse assunto: Justino Mártir, Clemente de Alexandria, Tertuliano e Cipriano estavam entre aqueles que consideravam que o inferno era um lugar literal de tormento ardente. Orígenes e Gregório de Níssa discordavam, dizendo que o inferno era simplesmente a separação de Deus.

1 - O QUE A BÍBLIA DIZ

A Bíblia traduz a palavra inferno 54 vezes ao longo do Antigo e Novo Testamentos (King James Version). No Antigo Testamento encontramos a palavra hebraica Sheol para se referir ao destino dos mortos, que significa “sepultura”, “morte” ou “abismo”. Essa palavra é uma expressão que apenas exprime o fim da existência do ponto de vista terreno, mas não significa o entendimento moderno de um local de sofrimento espiritual e eterno. Isso ocorre porque o Antigo Testamento não falava de forma clara sobre vida após a morte. Por conta disso, inclusive, Jesus teve debates acalorados com os estudiosos saduceus, que defendiam não haver ressurreição (cf. Mt 22.23-33).

É no Novo Testamento que se pode encontrar mais palavras que indicam o futuro dos mortos. A palavra mais usada no Novo Testamento é Geena (Mt 5.22, 29, 30; 10.28; 18.9; 23.15, 33; Mc 9.43, 45, 47; Lc 12.5; Tg 3.6). Embora tenha sido traduzida como inferno, essa palavra significa “Vale de Hinom”, que era literalmente o lixão da cidade de Jerusalém, onde se queimavam constantemente lixo e cadáveres dos mortos mais desprezíveis.

Outra palavra encontrada no Novo Testamento é a palavra Hades (Mt 11.23; 16.18; Lc 10.15; 16.23; Atos 2.27,31; Ap 1.18; 6.8; 20.13,14), que é o equivalente grego da palavra hebraica Sheol. Sabemos disso porque quando Lucas fez uma citação de Salmos 16.10 aos escrever Atos 2.31, ele traduziu a palavra Sheol como Hades. Porém, diferentemente do Antigo Testamento, no Novo Testamento essa palavra aparece em contextos mais espirituais.

Finalmente, temos uma única tradução da palavra grega Tártaro (2 Pe 2.4), mas essa palavra denota um verbo e não um substantivo: é a ação de aprisionar, conter, rebaixar, ou precipitar. O versículo se refere exclusivamente aos anjos caídos e não aos humanos.

2 - O QUE EU CREIO

Por mais que existam muitos textos com essas palavras, a grande maioria deles são citações vagas sobre o local em si. O único momento em que Jesus se preocupa em ensinar sobre o inferno de forma mais detalhada é na parábola do rico e do mendigo Lázaro (cf. Lucas 16.19-31).

O texto descreve a vida de um rico perverso que desprezava a existência de um mendigo que diariamente clamava pelas migalhas de comida que caíam da sua mesa. Então, quando o rico morre, o texto descreve um estado de consciência em que ele está em tormentos profundos nas chamas do inferno e clama pela ajuda de Lázaro. O "jogo virou" e ele que passou a ser o que necessitava de ajuda. 

É exatamente assim que eu entendo o inferno. É um local em que toda a perversidade plantada pelo ser humano será devolvida. Não creio na ideia de um local em que o diabo está com um tridente espetando a bunda do indivíduo, ou o assando vivo. Penso que todas as expressões que usam o termo "fogo" são representações do tormento que os perversos sofrerão de acordo com o nível de perversidade que praticaram aqui na Terra.

Não creio que as injustiças praticadas nessa existência terrena ficarão em branco. Desde Hitler até o ser humano menos perverso, todos receberão a devida recompensa, de acordo com a proporção do mal praticado por cada um. Hitler receberá no inferno dores semelhantes às torturas, aos experimentos macabros, aos atentados, enfim, receberá tudo o que um dia ele causou.

        Acredito naquele que disse aos injustiçados: “A mim me pertence a vingança, eu o retribuirei, diz o Senhor” (cf. Romanos 12.19). Assim, creio que cada atitude do homem, por menor que seja, receberá a devida retribuição, recebendo um sofrimento semelhante ao que foi praticado aqui na Terra.

Existem, todavia, pessoas que não creem em Deus, mas que não são pessoas perversas. Inclusive, conheço muitos ateus que são pessoas melhores que pessoas religiosas.  Ora, esses receberão de Deus no inferno o que mais desejaram aqui na Terra: um estado de consciência de total ausência de Deus. Digo “total” porque por mais que eles tenham tentado viver sem Deus aqui na Terra, ainda provaram de Deus de forma indireta. O sabor de uma deliciosa comida é dom de Deus; filhos amados são dons de Deus; o deleite de ouvir uma boa música é dom de Deus; enfim, “toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes” (cf. Tg 1.17). No entanto, mesmo sabendo que tudo o que é bom vem de Deus, escolheram não crer nele e viver sem ele. Esses receberão de Deus no inferno exatamente o que desejaram aqui na Terra – e aqui não falo dos ateumatizados, que são os ateus traumatizados que odeiam a religião e não Deus, falo dos ateus/ateus de verdade.

No entanto, eu não creio em um sofrimento sem fim. Creio que Deus julgará cada alma em justa medida e, após o juízo ser aplicado, elas simplesmente deixarão de existir, pois provarão a segunda morte (cf. Ap 20.14). Esse pensamento de segunda morte ou morte final está estritamente de acordo com o que Deus disse no Éden: “Porque, no dia em que dela comerdes, certamente morrerás” (cf. Gn 2.17). Morte pressupõe fim de existência. Logo, não há como afirmar que haverá um juízo sem fim.  Outra referência forte é 2 Ts 1.9, que diz: “sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder”.

Por mais que os que defendem o inferno eterno apelem às metáforas de Jesus ao se referir ao fogo sem fim do Vale de Hinom (Geena), eu prefiro acompanhar a interpretação que John Stott tem desses textos: “O fogo mesmo é chamado ‘eterno’ e ‘inextinguível’, mas seria muito estranho se aquilo que nele fosse jogado se demonstrasse indestrutível. Esperaríamos o oposto: seria consumido para sempre, não atormentado para sempre”

        Outro argumento muito usado para o tormento eterno está em Mt 25.46, onde Jesus diz: "E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna". Porém, o castigo eterno mencionado por Jesus nesse texto pode ser entendido como um juízo temporário, mas que tem consequências eternas - no caso, a destruição da alma é uma consequência eterna.

Portanto, como demonstrei, o inferno existe e Jesus falou sobre ele. Todas as nossas atitudes (minhas também) estão passíveis de serem julgadas pelo Justo Juiz – ele não deixará nenhuma atitude sem sua devida recompensa, alguém terá que pagar o preço. No entanto, movido por indescritível amor, ele resolveu se fazer homem e sofrer o castigo que deveria cair sobre nós – sofreu humilhação, maus tratos, dores, morte de cruz e, inclusive, o castigo dos ateus, pois exclamou: "Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?". Crês tu nisso?

“Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.” (João 3.36).

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1 John Stott e David L. Edwards, Essentials: A Liberal-Evangelical Dialogue (London: Hodder and Stoughton, 1988), pág. 316.

7 comentários:

  1. Já dizia a velha frase mais conhecida no meio teológico: Texto fora de contexto é pretexto para HERESIA!!!
    E que Heresia é essa Daniel?
    O ANIQUILACIONISMO!!!

    Isso meu querido, muito bem!
    Continue fazendo o trabalho que Satanás gostaria que você fizesse, fazendo pessoas leigas ̶ ̶c̶o̶m̶o̶ ̶v̶o̶c̶ê̶ acharem que é muito mais vantajoso ser ateu/ateu de verdade e ter sua alma simplesmente destruída (deixar de existir, coisa que a bíblia não prega!) do que sofrer as consequências do pecado (que já nascemos com ele por sinal [Salmos 51.4-5]), pelo que a bíblia fala lá em II Pedro 2.

    Nenhuma..... e repito NENHUMA das passagens citadas estava dentro de contexto. Todas as passagens usadas para tentar corroborar suas pretensiosas palavras estavam fora de contexto, seja ele contexto bíblico ou histórico.

    Todo o capítulo 2 de Pedro refuta completamente essa HERESIA DESTRUIDORA que é sua postagem juntamente com Mateus 25.31-46 onde o próprio Jesus cita CASTIGO ETERNO ao se referir à condenação daqueles que não creram.

    Somente o fato de você AFIRMAR que a alma de alguém deixa de existir apenas porque desejou ardentemente em vida (terrena) não crer que Deus exista já é por si só um HERESIA PIOR DO QUE QUALQUER OUTRA pois se torna uma justificativa para dizer que Deus falhou na sua criação, já que ele não criou o homem para morrer, muito menos sua alma para deixar de existir. A bíblia prega que a alma é eterna... e se é eterno nunca deixa de existir: I Coríntios 15.12-19!!!

    E por fim: Parabéns por afirmar claramente em seu parágrafo de conclusão que prefere ficar com as palavras ̶ ̶h̶e̶r̶e̶g̶e̶s̶ de um homem às de Jesus.

    "Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus"

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    1. Referência do ultimo versículo: Mateus 22.29
      Está fora de contexto sim... Mas se encaixa perfeitamente na descrição do que estava acontecendo no momento em que Jesus citou essas palavras, isso na teologia se chama: Trazer o conceito daquele texto bíblico para os dias atuais!

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    2. Olá,

      Por mais que você tenha sido agressivamente anticristão em sua postagem, vou lhe responder porque você usou UM argumento razoável, que foi o texto de Mt 25.46, onde Jesus diz: "E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna".

      O castigo eterno mencionado por Jesus nesse texto pode ser entendido como um juízo temporário, mas que tem consequências eternas - no caso, a destruição da alma é uma consequência eterna.

      Os outros argumentos não valem a pena responder, posto serem bem fraquinhos.

      - 2 Pedro 2 em nenhum momento afirma que existe tormento sem fim.

      - 1 Co 15.12-19 fala da ressurreição dos justos, que são aqueles que "não sofrerão dano da segunda morte" (cf. Ap 2.11). Esse texto de Coríntions não afirma em momento algum que a alma dos ímpios é eterna, tão pouco afirma que eles sofrerão tormento eterno.

      Abraços.

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    3. Eu teria pena de você se com esses conceitos atravessados anglicanos, onde são permitidas várias interpretações bíblicas, você fosse contemporâneo de Paulo. Minhas palavras soariam como um afago à alma na frente das dele.
      É abiguinho... Isso é o que acontece quando se deixa de congregar: você começa a criar doutrinas ao seu bel prazer adaptando a bíblia aos seus conceitos ̶ ̶h̶u̶m̶a̶n̶o̶s̶ ̶e̶ ̶f̶a̶l̶h̶o̶s̶ .
      Se você não consegue ver as evidências bíblicas nas passagens que mostrei meu caro, infelizmente você já está convencido em seu íntimo por uma vã doutrina que influencia diretamente na salvação daqueles que acompanham as suas postagens. Minha oração é para que você retorne ao primeiro amor. Porque assim como Paulo mandou que expulsassem um irmão em I Coríntios (que na verdade é II Coríntios [I Coríntios 5.9]) ele mandou que esse mesmo irmão fosse resgatado e acolhido com o amor da igreja por estar arrependido dos suas atos em II Coríntios (que na verdade é III Coríntios).

      Deixo aqui para que você possa olhar três links:
      O aniquilacionismo é bíblico?: https://www.gotquestions.org/Portugues/aniquilacionismo.html
      A alma humana é mortal ou imortal?: https://www.gotquestions.org/Portugues/alma-humana-mortal-imortal.html
      Como eternidade no inferno é uma punição justa para o pecado?: https://www.gotquestions.org/Portugues/inferno-justo.html

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    4. E não pense que eu me excluo como humano e falho... Quem sabe eu seja um dos piores se não for o pior...

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    5. Daniel,

      Não sei em quem você está falando quando afirma sobre deixar de congregar.

      Sobre os links que você deixou, eu já conheço as réplicas e as tréplicas quanto a esse assunto. Enquanto você estava assistindo aulas de Escola Dominical eu já pregava nas igrejas sobre isso. Porém, mesmo assim irei analisar o material - embora já saiba os argumentos falhos que eles irão usar.

      Quando for orar por mim aproveite e ore por você mesmo. Essa sua agressividade não é típica de um cristão. Você não chega nem perto de ter a autoridade de Jesus ou de Paulo para supor de si mesmo conter a correta interpretação dos textos Sagrados.

      Abraços.

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