Geralmente escrevo bastante sobre a igreja evangélica –
posto ter muito conhecimento desse meio –, mas dessa vez peço licença para
escrever um pouco sobre a igreja católica.
Quem é ligado nesses assuntos de igreja sabe o quanto que
o Papa Francisco tem sofrido perseguição da ala conservadora da igreja por
tentar estabelecer uma agenda reformista. No entanto, isso tem saltado aos
olhos ultimamente e tem chamado atenção até de quem não é muito interessado
nesses assuntos, visto que o conflito está aberto e estampando a capa de
diversos jornais ao redor do mundo.
“O embate ganhou manchetes com a divulgação, no domingo
passado, de uma carta em que o ex-núncio apostólico na capital americana, Carlo
Maria Viganò, acusa Francisco de ter acobertado crimes sexuais cometidos pelo
ex-arcebispo de Washington, Theodore McCarrick, e pede a renúncia do papa.”[1]
As 11 páginas de acusações não contém provas e acusam
somente o Papa e seus aliados, aos quais são chamados de “liberais”. Fica
notório que o objetivo da carta é político, pois a parte conservadora da igreja
que comete os mesmos delitos foi poupada das críticas.
É sabido que o Papa Francisco tem demonstrando tolerância
a homossexuais e permitindo que católicos divorciados ou casados novamente
recebam a comunhão. Isso tem enfurecido a ala conservadora da igreja católica.
No entanto, não quero entrar em detalhes sobre o que
ocorre lá dentro. Estou usando essa situação apenas como exemplo para falar da igreja
cristã em geral. Não é exatamente isso o que acontece em todas as igrejas?! Quem
são os que são perseguidos pelos doutores da letra? Não são os que tentam
praticar a tolerância, o acolhimento, e a misericórdia em relação ao próximo?
No contexto evangélico brasileiro, temos pastores como
Ricardo Gondim, Ed Renê, e Caio Fábio, que são alvos de constantes críticas por
parte do conservadorismo evangélico.
Para os conservadores, a letra é mais importante que a
misericórdia. Jesus, todavia, curava no sábado justamente para ensinar que o semelhante é
mais importante que qualquer lei. Ele poderia escolher qualquer dia da semana
para realizar a cura, mas os textos bíblicos sempre narram: “Jesus, em dia de
sábado...”.
Não vou me alongar na crítica ao perigo da idolatria que
os religiosos fazem à letra, visto que já tenho escrito vastamente sobre isso
aqui no Blog. Leia “Hermeneutas da Letra Morta”, “Afinal, por que a lei foi dada?”, “O que é realmente o tal Evangelho de Jesus?” e “Usos e Costumes”. Nesses
textos eu explico com teologia pesada a diferença entre letra morta e o
espírito do Evangelho Vivo.
Por hoje eu só quero mostrar que independente da igreja
ou época, os que quiserem piamente viver o evangelho de Cristo Jesus serão
perseguidos pelos defensores da letra e dos costumes:
Acusação feita a Estevão: “Este homem não cessa de falar
contra o lugar santo e contra a lei” (Atos 6.3).
Acusação feita a Paulo: “também tentou profanar o templo,
nós o prendemos com o intuito de julgá-lo segundo a nossa lei.” (Atos 24.6).
Após Jesus ter realizado uma cura: “Esse homem não é de
Deus, porque não guarda o sábado” (Jo 9.16).
É interessante como Jesus ironiza a tara dos judeus pela
lei ao chamar a lei que eles tanto defendem de “vossa lei” em João 8.17 e em
João 10.34. Por mais que a Lei de Moisés seja algo divino e espiritual, ela se
transforma em algo carnal quando vira um ídolo e é colocada acima do amor. Quando
isso acontece ela vira apenas “vossa lei” e não mais “lei de Deus”, posto o homem
pecador tê-la tornado maléfica e carnal.
Sempre que a Escritura é usada com intenções impuras, com
o objetivo de destruir ao invés de restaurar, de separar ao invés de acolher,
de odiar ao invés de amar – como ocorreu no caso da mulher adúltera – o texto
se des-significa e vira apenas letra morta.
Meu desejo é que possamos viver a real Palavra do Evangelho que
é espírito e é [gera] vida, a palavra da consolação, do acolhimento, da
justificação, da pacificação, da graça e da misericórdia.
Finalizo deixando aos acusadores do Papa Francisco a
seguinte fala de Jesus: “se vós soubésseis o que significa: misericórdia quero
e não holocaustos, não teríeis condenado inocentes.” (Mateus 12.8).
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