quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Crise na Igreja Católica


Geralmente escrevo bastante sobre a igreja evangélica – posto ter muito conhecimento desse meio –, mas dessa vez peço licença para escrever um pouco sobre a igreja católica.

Quem é ligado nesses assuntos de igreja sabe o quanto que o Papa Francisco tem sofrido perseguição da ala conservadora da igreja por tentar estabelecer uma agenda reformista. No entanto, isso tem saltado aos olhos ultimamente e tem chamado atenção até de quem não é muito interessado nesses assuntos, visto que o conflito está aberto e estampando a capa de diversos jornais ao redor do mundo.

“O embate ganhou manchetes com a divulgação, no domingo passado, de uma carta em que o ex-núncio apostólico na capital americana, Carlo Maria Viganò, acusa Francisco de ter acobertado crimes sexuais cometidos pelo ex-arcebispo de Washington, Theodore McCarrick, e pede a renúncia do papa.”[1]

As 11 páginas de acusações não contém provas e acusam somente o Papa e seus aliados, aos quais são chamados de “liberais”. Fica notório que o objetivo da carta é político, pois a parte conservadora da igreja que comete os mesmos delitos foi poupada das críticas.

É sabido que o Papa Francisco tem demonstrando tolerância a homossexuais e permitindo que católicos divorciados ou casados novamente recebam a comunhão. Isso tem enfurecido a ala conservadora da igreja católica.

No entanto, não quero entrar em detalhes sobre o que ocorre lá dentro. Estou usando essa situação apenas como exemplo para falar da igreja cristã em geral. Não é exatamente isso o que acontece em todas as igrejas?! Quem são os que são perseguidos pelos doutores da letra? Não são os que tentam praticar a tolerância, o acolhimento, e a misericórdia em relação ao próximo?

No contexto evangélico brasileiro, temos pastores como Ricardo Gondim, Ed Renê, e Caio Fábio, que são alvos de constantes críticas por parte do conservadorismo evangélico.

Para os conservadores, a letra é mais importante que a misericórdia. Jesus, todavia, curava no sábado justamente para ensinar que o semelhante é mais importante que qualquer lei. Ele poderia escolher qualquer dia da semana para realizar a cura, mas os textos bíblicos sempre narram: “Jesus, em dia de sábado...”.

Não vou me alongar na crítica ao perigo da idolatria que os religiosos fazem à letra, visto que já tenho escrito vastamente sobre isso aqui no Blog. Leia “Hermeneutas da Letra Morta”, “Afinal, por que a lei foi dada?”, “O que é realmente o tal Evangelho de Jesus?” e “Usos e Costumes”. Nesses textos eu explico com teologia pesada a diferença entre letra morta e o espírito do Evangelho Vivo.

Por hoje eu só quero mostrar que independente da igreja ou época, os que quiserem piamente viver o evangelho de Cristo Jesus serão perseguidos pelos defensores da letra e dos costumes:

Acusação feita a Estevão: “Este homem não cessa de falar contra o lugar santo e contra a lei” (Atos 6.3).

Acusação feita a Paulo: “também tentou profanar o templo, nós o prendemos com o intuito de julgá-lo segundo a nossa lei.” (Atos 24.6).

Após Jesus ter realizado uma cura: “Esse homem não é de Deus, porque não guarda o sábado” (Jo 9.16).

É interessante como Jesus ironiza a tara dos judeus pela lei ao chamar a lei que eles tanto defendem de “vossa lei” em João 8.17 e em João 10.34. Por mais que a Lei de Moisés seja algo divino e espiritual, ela se transforma em algo carnal quando vira um ídolo e é colocada acima do amor. Quando isso acontece ela vira apenas “vossa lei” e não mais “lei de Deus”, posto o homem pecador tê-la tornado maléfica e carnal.

Sempre que a Escritura é usada com intenções impuras, com o objetivo de destruir ao invés de restaurar, de separar ao invés de acolher, de odiar ao invés de amar – como ocorreu no caso da mulher adúltera – o texto se des-significa e vira apenas letra morta.

Meu desejo é que possamos viver a real Palavra do Evangelho que é espírito e é [gera] vida, a palavra da consolação, do acolhimento, da justificação, da pacificação, da graça e da misericórdia.

Finalizo deixando aos acusadores do Papa Francisco a seguinte fala de Jesus: “se vós soubésseis o que significa: misericórdia quero e não holocaustos, não teríeis condenado inocentes.” (Mateus 12.8).

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[1] Corrêa, Alessandra. A 'guerra civil' na Igreja Católica que pode abalar pontificado do papa Francisco. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-45374597>. Último acesso em 05/09/2018.





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