“Será, pois, que, se, ouvindo estes juízos, os
guardares e cumprires, o SENHOR, teu Deus, te guardará a aliança e a
misericórdia prometida sob juramento a teus pais” (Dt 7.12)
Quantas vezes não vemos no Antigo
Testamento o condicional “se” relacionado a bênção resultante da guarda dos
mandamentos? “Se guardares meus mandamentos, meus estatutos... se, se, se...” De
forma que são vários os textos em que vemos Deus prometendo a herança aos que
guardarem os mandamentos. Todavia, todos nós sabemos que não deu certo. Não é que
Deus tenha falhado, mas que o condicional contido na lei estava enfermo por
conta da carne. A lei de Deus é pura, santa e boa. Eu é que sou carnal. Se sou
carnal nunca conseguiria cumprir a condição que a lei estabelece para poder
receber a herança. Tentando receber a promessa pelo condicional da lei foi que o
povo de Israel caiu, caiu, e caiu.
Porém, quatrocentos e trinta anos
antes de Moisés dar o condicional ao povo, Abraão já tinha recebido a promessa
por meio da graça. Em nenhum dos textos em que Deus aparece aos patriarcas há o
condicional. Deus simplesmente chamou a Abraão e disse: “em ti serão benditas
todas as nações da Terra”. E ponto final. Não há “se” nas promessas feitas a Abraão.
“Porque, se a herança provém de lei, já
não decorre de promessa; mas foi pela promessa que Deus a concedeu
gratuitamente a Abraão.” (Gl 3.18). Simplesmente a fé lhe foi imputada para
justiça assim como é hoje para com os verdadeiros filhos de Abraão, que são os
da fé (cf. Gl 3.7).
A tristeza é que o condicional
dos mandamentos ainda existe hoje no coração do povo. Os cristãos creem que a
salvação é pela fé, mas logo depois vem o “se” que gera para a escravidão.
Outro dia estava vendo um debate num Blog acerca do divórcio, onde alguém
chegou a dizer que os divorciados só serão justificados por Cristo se
manterem-se em condição de celibato, pois casando novamente estariam em
adultério contínuo. Depois outro disse que as pessoas são salvas por Cristo,
mas só se estiverem indo à uma igreja. Ora, todos esses assuntos são
importantes e devem ser tratados com responsabilidade. O que não pode é dizer
que eles são critério para a salvação. Não se pode usar obras como
pré-requisito para o recebimento da herança, caso contrário cairíamos novamente
na escravidão do “se” de Moisés.
O problema é que o povo lê a
Bíblia com o mesmo espírito condicional da Lei – de querer alcançar a herança
vindoura por meio de méritos próprios. Assim, cumpre-se em nossos dias o que
Paulo escreveu sobre os judeus da circuncisão:
“E não somos como Moisés, que punha véu sobre a face, para que os
filhos de Israel não atentassem na terminação do que se desvanecia. Mas os
sentidos deles se embotaram. Pois até ao
dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece,
não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido. Mas até hoje, quando é
lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. Quando, porém, algum deles
se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado.” (2 Co 3.13-16)
Esse mesmo véu está posto sobre
os olhos de muitos líderes religiosos de hoje. Assim cumpre-se o que Jesus
falou: “São cegos guiando outros cegos”. O véu continua impedindo a visão da
graça de Jesus na vida de muitos. O ser humano sempre lê a Bíblia buscando nela
uma forma de barganhar com Deus, infelizmente. Por isso esquecem que o
condicional das obras foi totalmente destruído por Jesus na cruz. Toda a
condição de obras para a salvação foi cumprida por Ele, e nós a alcançamos por
meio da fé, conforme Abraão.
A verdade é que não há “se” na
caminhada de fé. “E para que servem os mandamentos que Jesus nos deixou?” –
Ora, servem para nos ensinar a viver melhor aqui na Terra. A caminhada do ser
humano sem os ensinos de Jesus tende para a destruição em todas as áreas da
vida, seja emocional, espiritual, familiar, ética ou psicológica. O ensino de Jesus
é vida em si, para si, e para o próximo. Não os cumprimos para sermos “mais”
aceitos por Deus. Os cumprimos porque é o melhor para nós. E quando não os seguimos
– pois somos pecadores – não perdemos a salvação por conta disso, mas naturalmente
receberemos as consequências terrenas do nosso erro. Quem rouba é preso; quem
mente é descoberto; quem guarda mágoa corrói a própria alma; e assim por
diante.
O único condicional válido na nova aliança para receber a
herança da nova Jerusalém é a condição de aceitar a obra salvífica de Jesus
pela fé.
“Se, com a
tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o
ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.” (Romanos 10.9)
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