sábado, 11 de julho de 2015

A Escravidão do Condicional

“Será, pois, que, se, ouvindo estes juízos, os guardares e cumprires, o SENHOR, teu Deus, te guardará a aliança e a misericórdia prometida sob juramento a teus pais” (Dt 7.12)

Quantas vezes não vemos no Antigo Testamento o condicional “se” relacionado a bênção resultante da guarda dos mandamentos? “Se guardares meus mandamentos, meus estatutos... se, se, se...” De forma que são vários os textos em que vemos Deus prometendo a herança aos que guardarem os mandamentos. Todavia, todos nós sabemos que não deu certo. Não é que Deus tenha falhado, mas que o condicional contido na lei estava enfermo por conta da carne. A lei de Deus é pura, santa e boa. Eu é que sou carnal. Se sou carnal nunca conseguiria cumprir a condição que a lei estabelece para poder receber a herança. Tentando receber a promessa pelo condicional da lei foi que o povo de Israel caiu, caiu, e caiu.

Porém, quatrocentos e trinta anos antes de Moisés dar o condicional ao povo, Abraão já tinha recebido a promessa por meio da graça. Em nenhum dos textos em que Deus aparece aos patriarcas há o condicional. Deus simplesmente chamou a Abraão e disse: “em ti serão benditas todas as nações da Terra”. E ponto final. Não há “se” nas promessas feitas a Abraão. “Porque, se a herança provém de lei, já não decorre de promessa; mas foi pela promessa que Deus a concedeu gratuitamente a Abraão.” (Gl 3.18). Simplesmente a fé lhe foi imputada para justiça assim como é hoje para com os verdadeiros filhos de Abraão, que são os da fé (cf. Gl 3.7).

A tristeza é que o condicional dos mandamentos ainda existe hoje no coração do povo. Os cristãos creem que a salvação é pela fé, mas logo depois vem o “se” que gera para a escravidão. Outro dia estava vendo um debate num Blog acerca do divórcio, onde alguém chegou a dizer que os divorciados só serão justificados por Cristo se manterem-se em condição de celibato, pois casando novamente estariam em adultério contínuo. Depois outro disse que as pessoas são salvas por Cristo, mas só se estiverem indo à uma igreja. Ora, todos esses assuntos são importantes e devem ser tratados com responsabilidade. O que não pode é dizer que eles são critério para a salvação. Não se pode usar obras como pré-requisito para o recebimento da herança, caso contrário cairíamos novamente na escravidão do “se” de Moisés.

O problema é que o povo lê a Bíblia com o mesmo espírito condicional da Lei – de querer alcançar a herança vindoura por meio de méritos próprios. Assim, cumpre-se em nossos dias o que Paulo escreveu sobre os judeus da circuncisão:

“E não somos como Moisés, que punha véu sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem na terminação do que se desvanecia. Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido. Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado.” (2 Co 3.13-16)

Esse mesmo véu está posto sobre os olhos de muitos líderes religiosos de hoje. Assim cumpre-se o que Jesus falou: “São cegos guiando outros cegos”. O véu continua impedindo a visão da graça de Jesus na vida de muitos. O ser humano sempre lê a Bíblia buscando nela uma forma de barganhar com Deus, infelizmente. Por isso esquecem que o condicional das obras foi totalmente destruído por Jesus na cruz. Toda a condição de obras para a salvação foi cumprida por Ele, e nós a alcançamos por meio da fé, conforme Abraão.

A verdade é que não há “se” na caminhada de fé. “E para que servem os mandamentos que Jesus nos deixou?” – Ora, servem para nos ensinar a viver melhor aqui na Terra. A caminhada do ser humano sem os ensinos de Jesus tende para a destruição em todas as áreas da vida, seja emocional, espiritual, familiar, ética ou psicológica. O ensino de Jesus é vida em si, para si, e para o próximo. Não os cumprimos para sermos “mais” aceitos por Deus. Os cumprimos porque é o melhor para nós. E quando não os seguimos – pois somos pecadores – não perdemos a salvação por conta disso, mas naturalmente receberemos as consequências terrenas do nosso erro. Quem rouba é preso; quem mente é descoberto; quem guarda mágoa corrói a própria alma; e assim por diante.

O único condicional válido na nova aliança para receber a herança da nova Jerusalém é a condição de aceitar a obra salvífica de Jesus pela fé.


Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.” (Romanos 10.9)

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