quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Como Jesus tratou os bandidos?

Dificilmente se encontrará um cidadão brasileiro que ainda não tenha sofrido nas mãos de assaltantes. Com 15 anos de idade dois indivíduos completamente drogados colocaram um calibre trinta e oito na minha cabeça e tomaram minha bicicleta; isso ainda se repetiria de forma semelhante outras três vezes em minha vida. Cada pessoa tem uma reação diferente ao sofrer esse tipo de atentado. No entanto, não estou aqui para falar da minha reação, e sim da reação de Jesus ao se deparar com pessoas que se encontravam nessa condição de malfeitores.

A forma de Jesus tratar essas pessoas não seria diferente da forma com que ele trataria os demais. Afinal, ele não faz acepção de pessoas. O agir dele para com todos era sempre movido por amor e misericórdia. No entanto, a grande questão é: essa misericórdia era limitada apenas ao âmbito espiritual, ou Jesus também os livrava das consequências sociais terrenas?

Quando analisamos o momento da crucificação, vemos que Jesus diz ao ladrão arrependido: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.” (Lc 23.43). No entanto, em nenhum momento usa seus poderes sobrenaturais para salvá-lo da condenação social que seu pecado lhe trouxe. Ou seja, o ladrão morreu na cruz e Jesus não impediu que isso acontecesse.

Jesus não o amava o bastante para lhe dar uma segunda chance? Não é bem assim. Não tenho dúvida de que Jesus queria que não só ele, mas que o outro ladrão que não se arrependeu também tivesse uma segunda oportunidade de continuar vivo e rever seus atos. Afinal, ele veio para que todos tenham vida, e a tenham em abundância (cf. Jo 10.10). Ele não deseja que ninguém tenha uma vida miserável, mas que todos vivam abundantemente a alegria que o evangelho propõe àqueles que o praticam. Porém, Jesus procurava não agir de forma contrária a lei social a qual ele estava submetido. Foi ele mesmo quem disse: “dai a César o que é de César” (cf. Mt 22.21). No entanto, Eu tenho certeza que se o império romano desse a possibilidade, dentro da lei, de que ele, por exemplo, oferecesse uma de suas pernas, e morresse na cruz aleijado, para livrar um daqueles ladrões, ele arrancaria as duas e salvaria os dois. "Ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento." (2 Pe 3.9)

Não digo isso baseado em achismos, mas porque ele já havia arriscado a própria vida para salvar uma mulher, pouco tempo atrás. Em João 8, Jesus se depara com a cena de uma mulher que havia quebrado a lei judaica – e, por conta disso, era passível de apedrejamento. Posso imaginar a cena: a mulher adúltera estava jogada no chão, humilhada, sem roupa, no meio de uma multidão de hipócritas com pedras nas mãos. Jesus, ao ver aquilo, se contorce em seu espírito e, movido da mais pura compaixão, tenta pensar numa forma de ajudar aquela mulher. Todavia, ele não poderia “passar a mão na cabeça dela”, pois ela de fato estava errada. Se ele dissesse que ela estava certa, iria contra a própria verdade da Palavra. Por outro lado, por ser misericórdia em essência, não queria que aquela vida se perdesse. Jesus, então, vai ao meio da multidão e, correndo o risco de ser apedrejado juntamente, diz: aquele que não tiver pecado, que atire a primeira pedra. Dessa forma sábia, Jesus consegue salvar a mulher sem precisar apoiar a sua atitude. [Tenho uma pregação específica sobre essa passagem - Grito Silencioso]

Em outra situação, Jesus e seus discípulos ao chegarem numa cidade de samaritanos para pernoitarem, foram por eles proibidos. Por conta disso, Tiago e João têm a ideia de imitar a atitude de Elias em 2 Reis 1, e dizem: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir?” (cf. Lc 9.54). Veja que o entendimento dos discípulos em relação ao tratamento que se deve ter para com o próximo já era precário desde aquela época.

Vejamos a atitude de Jesus: “Jesus, porém, voltando-se os repreendeu e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las.” (Lc 9.55,56).

A atitude dos discípulos de Jesus não mudou muito nos dias de hoje. Ainda querem fazer fogo descer do céu para consumir os seus opositores. Fico assustado com a facilidade de alguns cristãos desejarem a morte dos outros – por mais que supostamente eles mereçam. Quando não declaram esse desejo diretamente, declaram indiretamente ao aplaudirem discursos de ódio.

Eu, pessoalmente, não consigo me alegrar com a desgraça de ninguém, por mais que esse a tenha buscado. Prefiro vê-lo reeducado, vivendo uma vida nova, tendo a segunda chance que, talvez, sua vítima não teve. Não quero que nenhum se perca, mas que todos cheguem ao pleno conhecimento da verdade, tanto para essa vida, quanto para a vindoura.

No próximo dia 31 de Outubro será comemorado 500 anos da reforma protestante. Desde então se tem produzido muita teologia, as pessoas nunca participaram tão freneticamente de cultos religiosos, mas com tristeza tenho chegado a conclusão de que pouco tem-se aprendido a respeito da simplicidade da mensagem do evangelho em amor.

“Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo?” – Jesus de Nazaré.

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