Toda distorção do entendimento
que uma pessoa tenha do evangelho leva à uma fé adoecida. Quanto maior a
distorção, maior o adoecimento. No começo da minha vida cristã, quando eu tinha
18 anos, eu achava que defender assuntos morais era o método correto de
pregação do Evangelho. Discursava sobre a imoralidade da sociedade e a
relativização da mesma para com os usos e costumes cristãos, criticava o
crescimento do uso de tatuagens, falava para as pessoas quais eram as roupas decentes
que elas deveriam vestir, o corte de cabelo que deviam ter, criticava as farras
constantes dos meus amigos do futebol; enfim, não sei como as pessoas me
aguentavam.
Não demorou muito e eu percebi
que não era assim que Jesus agia. A pauta da pregação de Jesus não foi assuntos
superficiais como usos e costumes. O foco da mensagem dele era simplesmente a
graça, a misericórdia, e o amor do Pai, estendendo a mão e oferecendo
graciosamente salvação a todos.
No sermão do monte Ele dá ensinos
práticos sobre a melhor forma de viver a vida na Terra: fala sobre humildade de
espírito, sobre a importância da mansidão, sobre ser misericordioso e
pacificador, etc. Nas parábolas, o vemos falando do mistério do Reino dos Céus
e da graça oferecida àqueles que quiserem aceitar entrar.
As únicas vezes em que ele agia
especificamente no pecado de alguém era quando alguém o procurava e pedia
ajuda. Jesus não saía, por exemplo, de porta em porta procurando por
prostitutas para criticá-las. Agir assim apenas faria dele um “crente chato”
como eu era e afastaria as pessoas dele. Muito pelo contrário, Ele se dava
muito bem com as meretrizes, roubadores, publicanos, e pecadores em geral. Conforme
eles conviviam com Jesus, iam mudando de forma natural, sem nenhuma imposição.
E os que não queriam mudar, Jesus deixava a vontade para continuar na companhia
dele ou não; o jovem rico preferiu ir embora, já Judas ficou até o fim – e nem
por isso Jesus rejeitou sua companhia ou o tratou com menos amor que os outros.
O problema é que alguns cristãos acham que foram ungidos por Deus como fiscais da vida alheia. Isso acontece porque normalmente não
entendem o que é ser sal e luz na Terra, e pensam que ser isso é fazer descer
por goela abaixo da sociedade aquilo que eles entendem ser a moral cristã,
família tradicional, ou costumes judaico-cristãos.
A sociedade não tem obrigação de
seguir esses ditames! Aliás, “obrigação” não combina com seguir Jesus. Ele quer
ser seguido por liberdade de consciência em fé, nunca por obrigação. Essa
militância dos evangélicos em apoiar e ecoar discursos extremistas e moralistas
só tem catalisado ódio e mais ódio para o meio evangélico. Parece que eles
entenderam errado o “ide”, pois fazem parecer que entenderam assim: “ide por
todo mundo e envergonhai meu nome diante de toda criatura”.
Semana passada viralizou um vídeo
da Sarah Sheeva alfinetando a cantora Anitta, afirmando que não é certo ser
malandra, e sim princesa. A pastora Sarah roda o Brasil e o mundo com palestras
intituladas “seja princesa de Deus e não cachorra”. Gente, por favor, né? Isso
é pregar o Evangelho? Jesus nunca agiu assim! Chega a dar vergonha alheia. Como
diz em Romanos 2.24: “o nome de Deus é
blasfemado entre os gentios por vossa causa”.
Depois de o vídeo dela virar
chacota nacional, provavelmente ela foi dar testemunho do quão ela é perseguida
por “pregar o evangelho”. Mal sabe
ela que isso nunca foi pregação do evangelho.
Quem quer ser malandra, que seja;
quem quer ser princesa, que seja; Jesus recebe tanto uma como a outra, para ele
não há distinção. Se a malandra tiver sofrendo por ser malandra, ele oferece a
mão para ajudá-la se ela quiser ser ajudada; da mesma forma ele ajuda a princesa
nas suas fraquezas e debilidades.
Essa praxis de dividir as pessoas
em grupos acaba passando a ideia de que Deus só aceita as pessoas do grupo
moralmente perfeito, e isso não é verdade!
Jesus sempre recebeu a todos, desde
os perfeitinhos até os mais estigmatizados. Os que Jesus teve mais dificuldade
em tratar foram justamente os que defendiam a pauta do moralismo religioso.
Sim, eles mesmos, os fariseus! Poucos foram os fariseus que conseguiram ter um
encontro profundo com Jesus. Para Jesus era mais fácil tratar e andar com os
pecadores do que com os xerifes da religião.
Se você leu até aqui, deve ter
entendido o que é ser um cristão chato. No entanto, como que se pode ser sal e
luz sem ser chato? Simplesmente sendo como Jesus! Vou listar algumas coisas que
aprendi com Jesus:
Transforme água em vinho e
participe da festa. Não seja o esquisitão que depois que se converteu deixou de
andar com seus amigos antigos. Jesus NÃO veio para te tirar do mundo e te colocar
numa bolha (cf. João 17.15).
Pare de criticar as pessoas. Entenda
que aos olhos de Deus tua moralidade cristã não te faz menos pecador do que
qualquer outro que esteja aquém do nível de moralidade proposto pela igreja.
Seja um amigo normal. Não se
aproxime das pessoas com a ideia fanática de fazer proselitismo religioso. Se
tiver a oportunidade, fale de Jesus e não de religião. Ficar defendendo placa
de igreja é um saco!
Quando disse no parágrafo
anterior o “se tiver oportunidade” é só se tiver oportunidade mesmo! Não fique
pentelhando as pessoas para ouvirem a sua pregação. Te garanto que na realidade
do nosso país qualquer um já ouviu pregações mil vezes melhores que a sua. Pregue
com atitudes de amor conforme Jesus, isso está faltando no Brasil. Ao fazer
isso, você verá que as pessoas se aproximarão de você e abrirão o coração sobre
seus dilemas espirituais naturalmente.
No caso de reuniões, cultos, ou eventos, convide de vez em quando. Em eventos assim a pessoa vai se quiser, logo não há intromissão da sua parte. Só evite cobranças contínuas. Bom senso é tudo.
No caso de reuniões, cultos, ou eventos, convide de vez em quando. Em eventos assim a pessoa vai se quiser, logo não há intromissão da sua parte. Só evite cobranças contínuas. Bom senso é tudo.
Assim, sem fanatismo e sem paranoia
religiosa, você ajudará a muito mais pessoas se chegarem verdadeiramente a
Jesus; se não, simplesmente fará grandes amigos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário