terça-feira, 20 de outubro de 2020

Cristofobia Existe?

 


“Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom?” (1 Pedro 3:13)

O Presidente Bolsonaro, em um discurso feito na ONU, afirmou que há uma espécie de “cristofobia” que permeia a sociedade. No dia de ontem, duas igrejas foram incendiadas no Chile, o que fez com que novamente o termo “cristofobia” fosse posto em discussão.

Jesus, em sua época, de fato sofreu severas perseguições. E disse: “Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros” (João 15:20). Porém, é importante que seja analisado qual a motivação e qual grupo que perseguiu Jesus. Devemos nos perguntar se os cristãos hoje são perseguidos pelos mesmos motivos que o foram Jesus e os Apóstolos.

O texto de 1 Pedro 3:13 afirma que não há perseguição quando se faz o que é bom. A sociedade nunca irá maltratar alguém que pratica gestos louváveis. Quem vai perseguir alguém que defende a causa do oprimido, busca justiça aos necessitados, luta pela verdade, pela pacificação, ou que busca ajudar a quem precisa? Dificilmente um cristão será perseguido por agir como Cristo agiu. E se for, Ele nos manda exultar e alegrar, pois será grande o nosso galardão (cf. Mateus 5:12).

O problema é que os cristãos de hoje não são perseguidos por praticarem aquilo que Cristo praticou, mas sim por praticarem dogmas da religião. Existem ditos cristãos que não permitem que mulheres usem maquilagem; não permitem que usem roupas de banho na praia; não permitem que usem tatuagens; não permitem que escutem músicas seculares. Enfim, não permitem que façam coisas normais sob o argumento que devem ser diferentes do “mundo”. Ora, Jesus nos chamou a sermos diferentes, mas não nos chamou a sermos estranhos. Se você é perseguido por defender essas bobagens, você não está sendo perseguido por causa do Evangelho, está sendo perseguido por ser chato mesmo. Jesus se dava muito bem com aqueles que a religião chama de “mundanos”. Comia, bebia, participava de festas, se alegrava e andava com publicanos e pecadores.

Os exemplos anteriores foram bem bobinhos, pois se tratam apenas de doutrinas humanas. Mas existem também as doutrinas que realmente são bíblicas. Como defender que o padrão de casamento é entre homem e mulher; defender que o homem exerce liderança na família; defender que não se deve mentir, adulterar, etc. Nesses casos, é justo que o cristão siga essas coisas. O problema é quando eles tentam impor esse padrão como algo normativo da sociedade mediante a política. Jesus nunca agiu assim. Ele nunca buscou Pilatos, Herodes, ou César para que fosse baixado um decreto em que toda sociedade devesse ser heterossexual. Jesus simplesmente recebia e tratava daqueles que QUERIAM ser mudados, sem nenhuma imposição.

Se a atuação dos cristãos na sociedade se restringisse a apenas, conforme 1 Pedro 3.13, fazer o que é “bom”, não haveria perseguição. Só existe um grupo que ficaria injuriado com os que praticassem as obras de Cristo na Terra, seria o mesmo grupo que se irritou com Ele quando fazia o bem em dia de sábado. Sim, me refiro aos religiosos. A religião não suporta a liberdade e amor que o Evangelho traz, posto que isso mexe com suas estruturas de poder.

Por mais paradoxal que pareça, é a religião que persegue a Cristo e não a sociedade. Foi contra os religiosos que Jesus travou seus mais intensos debates; foi contra eles que Jesus se dirigiu de forma mais veemente, chamando-os de hipócritas; foi contra eles que Jesus fez uso da força, dando-lhes chicotadas, virando mesas e os expulsando do templo. Não chegou a queimar nenhuma igreja, mas afirmou que não ficaria pedra sobre pedra do templo de Jerusalém.

Não existe cristofobia, o que existe é cristianismofobia. A religião cristã, que usa como fachada o nome de Jesus, realmente sofre perseguição da sociedade, mas não por causa do Evangelho e sim pelos absurdos que profere em nome de Deus.

O povo simples de Deus que anda em amor e que muitas vezes nem igreja tem, dificilmente sofrerá perseguição da sociedade. Eles preferem estender a mão a julgar; preferem perdoar a revidar; preferem restaurar a destruir; preferem acolher a espalhar; preferem dividir a acumular; preferem servir a ser servidos. Qual tipo de sociedade odiaria gente assim?

Sendo assim, é preciso entender a diferença entre cristofobia e cristianismofobia. Ninguém há de ter medo de um homem que pregou o amor e a igualdade, mas violência já foi e é praticada em seu nome. É preciso que sejam postos os pingos nos is.

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