sábado, 29 de agosto de 2020

Flordelis e a Hipocrisia da Religião

 


   Todo o país tem acompanhado o escandaloso caso envolvendo a pastora e deputada Flordelis. Não quero e nem acho necessário entrar no caso pessoal dela, mas usarei esse acontecimento como pano de fundo para tratar de um tema mais amplo que infelizmente é comum no meio religioso: a hipocrisia.

A hipocrisia é uma espécie de fantasia ou disfarce que as pessoas usam para parecer algo que não são. Todo mundo tende a agir assim em um momento ou outro na vida. Porém, no meio religioso isso acontece de forma mais exacerbada pelo fato de existir uma certa esquizofrenia pregada pela religião. Num momento eles pregam que todos são pecadores, mas em outro impõem um rígido e elevado padrão moral a ser seguido pelos membros da congregação, padrões estes que Jesus nunca exigiu. O resultado desse tipo de evangelho distorcido é um povo escondido debaixo da capa da hipocrisia.

Em Marcos 14.51 diz que perto do momento da crucificação havia um jovem nu que seguia Jesus. É um versículo isolado relatado apenas no livro de Marcos. No entanto, esse versículo sempre me levou a refletir que a forma correta de seguir Jesus é de forma desnuda diante dele. Ora, não há porquê escondermos algo diante daquele que sonda mentes e corações.

Eu sempre busquei o seguir dessa forma. Foi por isso que há anos atrás resolvi romper com o movimento evangélico. Eu gozava de certo prestígio nesse meio e tinha conexões familiares que me podiam fazer “ir longe”. Mas abri mão de ser chamado filho da filha de Faraó. Eu já não acreditava que o movimento evangélico representava o evangelho de Cristo na Terra, ficar naquele meio em troca de cargos eclesiásticos seria hipocrisia.

Não devemos medir consequências para vivermos de forma sincera diante de Deus e diante do nosso semelhante. Deus requer adoradores que o adorem em espírito e em VERDADE. Isso mesmo, em verdade. Ele não quer adoradores que o adorem envoltos por uma capa de dissimulação. Se não nos tornarmos como crianças, na sua singeleza e sinceridade, jamais herdaremos o reino dos céus.

Ele prefere ser adorado por uma prostituta sincera do que pela líder de casais que às escuras engana e trai seu marido; Ele prefere ser adorado por um homossexual assumido que por um diácono casado que se relaciona escondido com o amigo líder do coral da igreja; Ele prefere o ateu de bem que o religioso que o nega através das suas práticas ímpias; Ele prefere o publicano pecador que clama por misericórdia que o fariseu que acha que pode comprar sua relação com Deus através daquilo de bom que pratica.

Jesus disse que suas ovelhinhas deveriam se acautelar do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia (cf. Lc 12.1). Não há melhor comparação que essa. O fermento incha a massa, torna ela mais vistosa, porém vazia, visto que o volume é apenas “ar”. Assim é a hipocrisia, ela é vistosa aos homens, porém vazia de significado diante de Deus.

Quando a motivação de alguém fazer algo é impressionar os homens, há uma grande possibilidade de se cair em hipocrisia. Isso gera uma inversão de valores perigosa. Os homens se atentam ao que veem do lado de fora, Deus ao que vê do lado de dentro. Por isso que Jesus falou que os fariseus se preocupavam tanto com o exterior que negligenciavam os principais preceitos da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé. Eles faziam de forma mecânica as suas boas obras, mas sem amor, de nada aproveitava, ainda que removessem montes de lugar. Da mesma forma, de maneira mecânica faziam seus julgamentos, preferindo apedrejar a mulher adúltera que perdoá-la, sob a justificativa que estavam respaldados pela “lei”.

Foi para manter as aparências do que está do lado de fora que a religião já cometeu as maiores atrocidades em nome de Deus. A Flordelis preferiu, às ocultas, assassinar o próprio marido que se divorciar dele, pois segundo ela o divórcio “escandalizaria o nome de Deus”.

Jesus disse que os fariseus coam mosquitos, mas aceitam camelos. E isso é justamente resultante da inversão de valores proposta pela religião. Se preocupam com coisas pequenas: com o decote da irmã, com cabelo longo do irmão, com a tatuagem do adolescente, mas esquecem de tratar daquilo que ninguém vê, mas que Deus vê: o próprio coração.

 

 

Um comentário:

  1. Excelente texto, e todas as colocações sobre o tema estão alinhadas a proposta, parabéns. Só me resigno a dizer que o caso dessa "personagem" indeferi dela ser religiosa ou não - embora concorde com os impactos refletidos por sua influência no meio - a questão é que sendo religiosa não a torna menos ou mais criminosa. Ricardo Bispo

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