“Louvarei com cânticos o nome de Deus, exaltá-lo-ei com ações de
graças. Será isso muito mais agradável ao SENHOR do que um boi ou um novilho
com chifres e unhas.” (Salmos 69.30,31)
Fico impressionado ao perceber
nesse trecho do Salmo a visão transcendente que Davi tinha de Deus,
especialmente pelo fato dele ter vivido na época do A.T, o que poderia limitar sua
percepção em vários aspectos. No entanto, mesmo enquanto a história bíblica
ainda estava sendo construída, sem ele ter sequer noção que o Antigo Testamento
era apenas uma muleta transitória que vigoraria apenas até a vinda do Messias,
Davi declara entender que o que Deus espera é uma adoração baseada no coração,
e não em ritos exteriores.
O mais assustador disso tudo é
que ele fala isso ignorando todas as ordens sobre sacrifícios contidas no
Pentateuco. Algum sacerdote, levita, ou teólogo da época poderia questioná-lo
por proferir tamanha “heresia”. Para esse tipo de gente, o culto agradável a
Deus é único e exclusivamente o definido pelas linhas interpretativas que eles
têm acerca do livro sagrado.
Porém, se um dia, no porvir, Deus revelar tudo o que estava no coração dos homens, eles verão que muitos dos que não participavam das delineações da eclesiologia da igreja viveram um culto agradável a Deus, enquanto muitos dos religiosos, lançados fora.
É por isso que Jesus disse que
publicanos e meretrizes os precedem no reino dos céus (cf. Mt 21.31). Por verem
de mais, acabam não vendo o óbvio. Por acharem que enxergam muito, acabam não
enxergando o necessário. A esses, Jesus diz: “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis:
Nós vemos, subsiste o vosso pecado.” (João 9.41).
A intimidade com Deus não é medida
por diplomas de seminário, nem pelo quanto a pessoa se abstém daquilo que chama
de “mundo”. Em termos de intimidade com Deus, mesmo sem ter tanto estudo e
sendo um grande pecador, Davi dá aula. No Salmo supracitado, é como se ele
dissesse: “por que o Deus criador dos céus e da terra se importaria com
sacrifícios de simples animais? Por que isso o satisfaria?!”. Um religioso
poderia responder: “É assim porque interpretamos no livro sagrado que deve ser
dessa maneira!”. Davi talvez responderia: “Eu não entendo muito sobre métodos
interpretativos. Só sei que essa ideia não é compatível com o Deus Todo-Poderoso que creio!”.
E assim, até os dias de hoje, os Davis são diminuídos, estigmatizados, e
excluídos pelos supostos detentores da verdade divina.
Você é o tipo da pessoa que usa
da sua capacidade hermenêutica para tentar dizer quem está fazendo a vontade de
Deus ou não? Ou dizer quem é salvo ou não? Ou decretar quão pecador o outro é
ou não? Se você estivesse na época de Davi, e o ouvisse proferindo o Salmo
acima, o que falaria?
Se alguém chamou Davi de herege
por esse motivo naquela época, hoje se arrepende amargamente onde quer que
esteja, pois mal sabia ele que viria Jesus trazendo uma mensagem que validaria o
pensamento de Davi.
Às vezes as pessoas prendem Deus
em uma caixinha ideológica, mas mal sabem essas pessoas que existem muito mais
coisas entre o Céu e a Terra que as nossas vãs teologias. Deus é Deus, faz o
que quer, como quer, usando quem quer, tendo misericórdia como quiser, amando
da forma que quiser amar, salvando quem quer salvar, acolhendo da forma que
quiser acolher; enfim, agindo Ele, quem impedirá?
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