Até os
anos 2000, quando alguém criticava o movimento evangélico, guardava o cuidado
de não generalizar dizendo: “embora isso aconteça, ainda existem algumas
igrejas saudáveis”. Essas “igrejas saudáveis” as quais se referiam, geralmente eram
as igrejas histórico-conservadoras, que não exteriorizavam de forma espetaculosa
as heresias que as igrejas neopentecostais realizavam sem pudor. No entanto, o que
sempre denunciei era que o erro das igrejas histórico-conservadoras era velado,
ninguém o percebia facilmente, até que chegou o ano de 2014 e a política entrou
com força nas igrejas.
O principal
problema dessas igrejas era o moralismo fanático proposto por suas lideranças. Existiam
igrejas que proibiam o membro de ir à praia – outras permitiam, desde que não
usassem roupa de banho; algumas demonizavam a televisão; outras proibiam que
escutasse música de fora da igreja – as quais eles adjetivavam como “mundanas”;
se essas coisas simples eram tabus, imaginem temas como homossexualidade, sexo
antes do casamento, submissão da mulher, etc.
Enquanto
essas loucuras ficavam apenas dentro das suas igrejas, a sociedade não
conseguia percebê-las. Afinal, vendo a igreja pelo olhar de quem está de fora,
não havia o que criticar. No máximo se dizia que eles eram muito rigorosos. No
entanto, os que viviam dentro desse sistema eram atormentados diariamente por
essa rigidez, visto que toda tratativa para com os que não se encaixavam em
seus elevados padrões morais era através da exposição pública, da confrontação denunciativa
perversa e, nos casos mais extremos, exclusão. O que os líderes desses
movimentos pregam é que a relação com Deus é baseada naquilo que você pode
entregar a Ele em asceticismo moral e não através da graça, misericórdia e amor.
A
sociedade começou a perceber o quão esse movimento é danoso quando ele começou
a se exteriorizar através da política. Agora todo aquele moralismo fanático que
era aplicado apenas aos membros da igreja passou a ser imposto aos poucos
através da política para toda a sociedade.
O que
me levou a escrever esse texto foi descobrir um livro escrito recentemente por
um pastor conhecido meu:
Eles
estão despudoradamente indo contra tudo o que Jesus pregou e fez. Por terem
abraçado o movimento conservador de Direita em função dos costumes morais,
tiveram que aceitar o pacote todo. Isto é, estão começando a pregar que não se
deve fazer assistencialismo aos pobres! Não contentes em negar que a mensagem
da salvação é apenas por misericórdia e graça, fazendo-a dependente da
complementação através de atitudes religioso-morais. Agora, extrapolando em sua
malignidade, estão negando a práxis do Evangelho, que foi clara e
exaustivamente praticada por Jesus em relação aos pobres, publicanos, pecadores,
excluídos e marginalizados.
Eles,
por estarem cercados de doutores conforme suas concupiscências (2 Tm 4:3-5),
doutores estes que fazem malabarismos com textos bíblicos para justificar esses
absurdos, pensam cegamente que não estão errados. Ao serem questionados, fazem
como o cego povo de Israel no período pré-cativeiro, e respondem: “em que temos
nós pecado?” (Jr 2:35). Foi-lhes dado olhos para não verem e ouvidos para não
ouvirem.
A altivez
é tamanha, que chegam a dizer que a crise mundial de saúde que estamos passando
é castigo de Deus aos pecadores que ainda não se converteram à gloriosa religião
evangélica, religião essa que usa como fachada o nome de Jesus, mas que diariamente
nega o que Ele ensinou e viveu. Não conseguem se enxergar, não percebem o quão
longe estão da simplicidade do Evangelho. Se eles conhecessem as Escrituras e o
poder de Deus, saberiam que se há um juízo, o juízo é sobre a Igreja. O
apóstolo Pedro diz que o juízo de Deus começa pela Casa dele (1 Pe 4:17). E
isso é o lógico, a saber, julgar aqueles que têm uma aliança com Ele e não quem
não tem. Foi assim com a nação de Israel, que sempre que quebravam a Aliança,
eram julgados. Quanto aos de fora, a eles no dia chamado Hoje é oferecido
misericórdia e não julgamento.
Não há
mais como usar a reserva generalizatória proposta no início desse texto. A
quantidade de igrejas evangélicas saudáveis ficou tão escassa que não se pode
mais dizer: “o movimento evangélico está perdido, mas ainda há igrejas
saudáveis”. Pelo contrário, é hora dessas pouquíssimas igrejas saudáveis
tiraram de si o nome de evangélicas, pois se não serão levadas juntas no dia da
ira, que está às portas.
Existe
um momento em que a quantidade saudável é tão pequena que, ao invés de ficar e
tentar mudar a multidão dos que estão errados, precisa sair para que não seja
engolida pelo erro dos outros ou levada também pelo juízo de Deus. Lembra de
Sodoma e Gomorra? Lembra da Arca de Noé? Pois bem, existe um momento em que se
tem poucos demais para poder influenciar todo o mal que está ao redor. Nesse
momento, é hora de sair desse meio porque a ira vem. Isto já está acontecendo
com o movimento Evangélico e não tardará.
É hora
de sair do meio deles, mudem o nome de suas igrejas ou até voltem a se reunir
singelamente de casa em casa como na época de Atos. Façam qualquer coisa, só
não fiquem aí se identificando como os tais! Pois se assim o fizerem, nem mesmo
a sociedade lhes respeitará. Desde as eleições de 2018, a sociedade ficou
vacinada contra qualquer movimento que tenha “Evangélico” no nome. Para eles, isso
é sinônimo de machismo, homofobia, xenofobia, preconceito, discurso de ódio, e
tudo aquilo que vai contra o amor. Aquele mal velado que não era percebido,
agora ficou exteriorizado para toda a sociedade.
As
poucas igrejas que tiverem coragem de fazer isso sofrerão severa perseguição
por parte das que persistirem em ficar dentro do movimento. Ser minoria muitas
vezes traz medo. Porém, saibam que estreito é o caminho e que poucos são os
escolhidos. Não é estranho ver um movimento crescendo tanto, visto que Deus
disse que seriam poucos? Do ponto de vista do Evangelho, faz todo sentido ser
minoria!
O que
mais me entristece é que tem ovelhinhas de Deus dentro dessas igrejas que não
sabem nem o que está acontecendo. Deus tem suas ovelhas amadas em todo lugar: no
espiritismo, na igreja católica, na rua com os que nem igreja tem, e pasmem,
ele tem ovelhinhas amadas até mesmo dentro da igreja evangélica, desde as
neopentecostais até as histórico-conservadoras. Essas ovelhinhas estão no meio
do fogo cruzado, assustadas, sem entender ou sem saber a quem seguir. Oh Deus,
que o Senhor as guarde do mal e não permita que os erros ensinados nesses
lugares pervertam o coração delas!
As
mantenha na simplicidade e graça do amor ensinado e entregue por Jesus, essa é
minha oração, com temor e tremor, mas certo da verdade em Jesus.
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